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'Não quebrei nada', diz presa em protesto
Luana Bernardo Lopes afirmou em rede social que ela e Humberto Caporalli apenas fotografavam manifestação
Polícia afirma ter gravação com voz de jovens incitando violência durante depredação
A estudante de moda Luana Bernardo Lopes, 19, presa com base na Lei de Segurança Nacional na segunda-feira em São Paulo, nega que tenha participado de protestos violentos, como afirma a polícia.
"Aqui vai meu grito --até o momento surdo--: não quebrei nada, não depredei nenhum patrimônio público, não bati/quebrei/atirei pedras em carro, loja ou estabelecimento público algum", disse ela numa rede social.
Luana afirmou ainda nunca ter sido "a favor de nenhum tipo de violência gratuita".
Ela foi detida após a série de depredações ocorridas na região central, que começou durante ato em apoio aos professores em greve no Rio.
Luana foi presa com o grafiteiro Humberto Caporalli, 24, que se intitula "Humberto Baderna" --referência à anarquista italiana Marietta Baderna (1828-1870), que se exilou no Brasil após alegar perseguição política em seu país.
Ambos foram liberados anteontem por ordem da Justiça. A Folha solicitou entrevistas com os dois, mas seus advogados não concordaram.
Policiais afirmaram que eles picharam prédios, incitaram a violência e ajudaram um grupo a virar um carro da polícia de ponta-cabeça.
"Fomos com uma câmera na mão e algumas tintas (como de costume, já não me lembro o dia que saí de casa sem pelo menos um pincel, caneta e papel na bolsa). Nos propomos a ir lá fotografar um momento de nosso tempo", escreveu a jovem.
A dupla foi enquadrada numa lei criada no regime militar que prevê pena de três a dez anos de prisão para quem pratica sabotagem contra instalações militares, meios de comunicações, estaleiros, portos ou aeroportos.
Luana escreveu que Caporalli é amigo dela, e não namorado. Após a prisão, a informação sobre a relação amorosa dos dois foi confirmada à Folha pelo advogado do rapaz, Geraldo Santamaria Neto, em entrevista gravada.
A polícia afirma ter apreendido com eles latas de spray e uma bomba de gás lacrimogêneo "aparentemente utilizada". Disse haver gravações com a voz dos dois incentivando a destruição do carro.
"Se cometi algum crime nessa noite, foi o de acreditar com toda minha fé que a única arma que pode mudar algo é a da arte", disse a jovem.
Alunos e professores da Faculdade Santa Marcelina, onde ela estuda, divulgaram carta em seu apoio. "Luana, nossa colega, não é uma terrorista. (...) É intolerável sua prisão e de qualquer outro jovem que decida externar sua insatisfação quanto aos rumos políticos e sociais da sociedade em que vive", afirma o texto.