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Cuscuz e café fraco são os 'desafios' para a adaptação
Estrangeiros também dizem estranhar que pacientes pobres tenham Facebook
Consumo de remédios controlados alarmou médico cubano, que ensina alternativas com plantas da região
"Um lugar pobre, com essas condições, e as pessoas têm Facebook, internet. É uma coisa um pouco contraditória" Gostamos de examinar o paciente, dedicar um tempo a ele, considerá-lo gente, pessoa que necessita de uma mão amigaNelson lopez, 44médico cubano alocado em Frei Miguelinho (PE)
A língua portuguesa não é a única novidade à qual os médicos cubanos tiveram que se acostumar. Essa, aliás, eles dizem que foi uma dificuldade superada logo nos primeiros dias de trabalho em PE.
Apesar da experiência internacional em países pobres, no interior de Pernambuco algumas ditas contradições sociais e hábitos peculiares surpreenderam os estrangeiros.
Nelson Lopez, 44, já trabalhou na Venezuela e na Gâmbia, mas impressionou-se quando famílias pobres da zona rural de Frei Miguelinho (PE), onde a água do posto de saúde é armazenada em baldes, pediram fotos com ele para postar nas redes sociais.
"Um lugar pobre, com essas condições, e as pessoas têm Facebook, internet. É uma coisa um pouco contraditória", disse, admirado.
Além disso, Lopez se disse chocado com o consumo indiscriminado de remédios controlados. Especialista em medicina tradicional, faz palestras explicando o perigo e apresenta chás e infusões feitos com plantas da região.
Fora do consultório, o desafio é se adaptar a hábitos exóticos. Quando a reportagem visitou o município, na semana passada, ao lado do posto de saúde um grupo tentava caçar um lagarto para o almoço daquele dia.
O médico ainda não precisou experimentar o animal, mas tenta se habituar a comer cuscuz todos os dias em pelo menos duas refeições, além do café fraco e doce.
Nos fins de semana, Lopez visita seus conterrâneos Alberto Vicente, 43, e Teresa Rosales, 47, em Brejo da Madre de Deus (PE), a 77 km de lá.
O casal de médicos já tem uma rotina durante a semana: quando terminam o trabalho, seguem a pé para casa, cuidam dos afazeres domésticos, estudam, assistem novela e logo vão dormir.
Ganharam da prefeitura duas bicicletas, mas Teresa diz que estão sedentários.
Os médicos falam diariamente com os familiares em Cuba pela internet. Os parentes perguntam sobre o Brasil, condições de trabalho e do lugar onde vivem.
A casa está quase toda equipada. Ainda faltam guarda-roupa, máquina de lavar e ar-condicionado. A médica também quer gradear o imóvel.
"É um bairro muito tranquilo até agora, mas eu sinto medo porque não conheço bem", disse a médica. (DC)