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Júlia, 17, e Giana, 16, tiveram imagens íntimas divulgadas
As adolescentes, do Piauí e do Rio Grande do Sul, foram encontradas enforcadas dentro de suas casas neste mês
Outra vítima, de Goiânia, conta que parou de trabalhar e estudar enquanto tenta tirar o vídeo da rede
Júlia, 17, era fã de rap e da cantora Miley Cyrus, frequentava o colégio e um curso técnico de enfermagem. Giana, 16, gostava de salto alto e cursava o ensino médio e um curso de secretariado.
Júlia Rebeca dos Santos, de Parnaíba (PI), e Giana Laura Fabi, de Veranópolis (RS), tinham algo em comum: viviam conectadas à internet.
Elas tiveram a intimidade devassada com a divulgação de fotos e vídeos íntimos. E, com uma diferença de quatro dias, foram achadas enforcadas em casa; Júlia, no dia 10, e Giana, no dia 14. As suspeitas são de suicídio.
A polícia e familiares questionam: por que alguém espalhou essas imagens?
O delegado Marcelo Ferrugem disse que um adolescente foi interrogado e admitiu o envio a quatro amigos de uma foto de Giana com os seios à mostra. A imagem foi gravada por ele em uma conversa com a garota pelo programa Skype, há seis meses.
À polícia, ele nega ter vivido um relacionamento amoroso com Giana.
No caso de Júlia, a Polícia Civil do Piauí analisa quem espalhou um vídeo no qual ela aparece mantendo relações sexuais com uma garota e um jovem, todos menores de idade.
Segundo o delegado James Guerra Júnior, as imagens, a princípio, dão a entender que a própria Júlia filmou a cena.
Os celulares dos três passam por perícia para checar se foi a partir de um deles que o vídeo foi compartilhado.
CHOQUE
Para as famílias, os últimos dias foram de assédio da mídia, comentários póstumos bons e ruins na internet, mas principalmente de choque.
"Por que acabar assim com a própria vida? Por uma coisa tão pequena?", repete várias vezes à Folha o pai de Giana, o motorista Marcos Gilmar Fabi, 48. Ele não poupa elogios à filha caçula: uma menina simpática, "que não fazia distinção de ninguém".
Daniel Aranha, 28, primo de Júlia, a descreve como uma menina "cercada do amor da família, que gostava de cantar alto músicas no meu carro".
Mais velha de três filhos, a garota de Parnaíba costumava ir com a tia a uma igreja evangélica aos domingos.
A família tenta se refazer do impacto da morte. "Ainda não caiu a ficha, sabe? Parece que daqui a pouco vamos buscá-la na escola ou ela vai chegar", afirma o primo.
Ana Luiza Mano, do Núcleo de Pesquisa da Psicologia em Informática, explica que as vítimas se deixam filmar por acharem que estão num contexto de confiança e que aquele momento ficará só entre os envolvidos.
Quando a confiança é quebrada, têm de enfrentar a pressão social.
Foi o caso da estudante Fran Santos, 19, de Goiânia, que tenta reconstruir sua vida desde que foi exposta na internet, em outubro.
"Parei de trabalhar e estudar. Na rua as pessoas ficam olhando e comentando. Já até tentaram tirar foto minha no ônibus", conta Fran, que teve um vídeo de sexo divulgado na internet por um rapaz com quem se relacionou.
A jovem tenta retirar o conteúdo da rede --sem muita esperança de que vá conseguir. "Infelizmente está cada dia mais comum. Não fui a primeira e não serei a última".