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Leão Serva

No Natal, o rei cruel cria trânsito

No fim de semana, todos os carros se colocaram em fila, estacionados por 24 horas, 48 horas, continuamente

Era uma vez um rei muito mau, tão perverso que, na véspera de Natal, irritado com a alegria dos súditos, decidiu impor ao reino grandes congestionamentos. Como depois de muito pensar, nada lhe ocorria que pudesse atender sua expectativa de maldade, mandou chamar o ministro mais sádico.

O condestável propôs o plano malévolo: para paralisar a cidade, causar os maiores engarrafamentos de todos os tempos, temos que financiar a produção e a venda de automóveis, vender combustível barato e, principalmente, tirar das garagens os carros que ficam parados a semana toda.

E para isso, a maior de todas as maldades, vamos realizar um grande plano viário. Criar novas avenidas, alargar as existentes, construir pontes sobre os rios e túneis sob as montanhas, um grande rodoanel em volta da capital e um pequeno anel viário em volta de seu centro.

Ao anunciar as medidas, o rei pensava ouvir gritos desesperados e choro. Mas logo notou que suas propostas rendiam elogios. Os jornais do reino saudaram o déspota como visionário. Um grande jornal opinou: "Grande parte da responsabilidade dos congestionamentos no reino são decorrência da falta de obras de ampliação da infraestrutura viária na cidade", celebrando que agora a realidade seria alterada.

O rei reclamou ao auxiliar: "Eu lhe pedi uma maldade e você faz o que o povo quer? Tudo que ouço são elogios!"

O ministro respondeu rapidamente: "Nada mais equivocado. Eles não perdem por esperar. Em pouco tempo, o trânsito será insuportável".

Vieram as eleições e as obras viárias foram apresentadas como criações redentoras, o governo do rei foi aprovado. Antes do que previra o grande bruxo, porém, imensas paralisações começaram a acontecer nas cidades. Em um fim de semana, os caminhos todos que atravessavam o reino ficaram ocupados por carros parados, milhares de quilômetros a perder de vista: todos os veículos se colocaram em fila, uns atrás dos outros, estacionados por 24 horas, 48 horas, continuamente.

Feliz com a plena realização de seus desejos perversos, o rei mandou chamar o ministro e ao vê-lo, foi logo perguntando: "Como pudestes ter ideias tão perfeitas?"

Foi quando o consultor explicou: "Estudei engenharia de tráfego, li os melhores tratados publicados em outras nações e totalmente desconhecidos nesta vossa terra de reinóis ignorantes. Bastou-me fazer o contrário do que ensinavam. Naquelas obras sagazes, grandes estudiosos ensinam que quanto maior a oferta de vias, mais carros são atraídos. Aquelas nações distantes, como Estados Unidos, Inglaterra e França, diante de tais constatações, interromperam a construção de grandes obras viárias nas cidades. Ao contrário, a cada ano, fecham aos carros centenas de quilômetros de vias em cada grande cidade. O que lhe propus foi fazer o que eles evitam".

Antes de ir, o ministro vaticinou: "Quando se constrói uma via, 90% de seu espaço é ocupado no primeiro ano; em dois anos, o congestionamento supera em 20% tudo que foi adicionado".

O rei anotou a profecia matemática de seu sábio ministro. Aproveitou que os súditos ignoravam a ciência do trânsito para nos anos seguintes manter sua plataforma perversa: "Governar é construir estradas e criar grandes engarrafamentos".


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