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Cotidiano

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Um ano após mortes, Santa Maria se divide entre luto e cansaço

Incêndio que matou 242 pessoas mobiliza familiares, que reclamam da falta de compreensão de moradores

Comerciantes temem que o abatimento da população pela tragédia na boate Kiss provoque estagnação da cidade

FELIPE BÄCHTOLD ENVIADO ESPECIAL A SANTA MARIA (RS)

No dia seguinte ao incêndio da boate Kiss, em Santa Maria (RS), 35 mil pessoas saíram às ruas do município cobrando punição aos responsáveis pela tragédia.

Amanhã, quando completar um ano o incêndio que matou 242 pessoas, as manifestações programadas deverão reunir só uma pequena parcela daquela multidão.

A comparação é um retrato de uma cidade dividida.

Enquanto parte dos moradores quer esquecer o que aconteceu e retomar a rotina da cidade, familiares e vítimas mantêm a mobilização, apontando falta de resultados das investigações.

No comércio e no empresariado, o temor é que o abatimento da população gere a estagnação da cidade.

Em editorial, o principal jornal local, o "Diário de Santa Maria", afirmou que empresários estavam procurando a redação com pedidos para reduzir a cobertura da tragédia, o que ajudaria a cidade a recuperar o ânimo.

"Às vezes, a associação [de famílias de vítimas] quer que a cidade tenha a mesma dor deles. Parece que forçam a situação", diz o empresário Luiz Fernando Pacheco, 46, que preside a Câmara de Comércio e Indústria local.

Adherbal Ferreira, 49, que perdeu a filha no incêndio e é um dos líderes da associação de famílias, afirma que os críticos não conseguem se colocar no lugar dos afetados pela tragédia. "Tem gente que acha: Deu, vamos parar com esse assunto'."

A mobilização dos parentes dos mortos aumentou após a libertação, em maio passado, de quatro réus que respondem por homicídio devido à tragédia --dois sócios da boate, o vocalista da banda Gurizada Fandangueira e o produtor do grupo.

O fogo na casa noturna começou após o vocalista usar um artefato pirotécnico no palco. As chamas atingiram uma espuma fixada no teto, que liberou a fumaça tóxica.

Liderados por um movimento autônomo de familiares chamado "Do Luto à Luta", parentes acamparam na Câmara Municipal, bloquearam uma rodovia e vêm promovendo caminhadas.

Uma das últimas passeatas, no último dia 20, reuniu menos de cem pessoas.

Eles também mantêm, na principal praça da cidade, uma barraca fixa com fotos das vítimas. A cada dia, uma família de um dos 242 mortos é escalada para ficar em "vigília" no local. Uma faixa pede "compreensão".

Na cidade, pouca gente se dispõe a comentar a divisão abertamente. A professora Helena Rosa, que perdeu dois filhos no incêndio, diz que há pessoas que xingam os familiares que fazem a vigília.

"Dizem que deveríamos deixar os mortos descansarem, que a cidade está morrendo por nossa causa. Não sei se é insensibilidade ou ignorância", declara.


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