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Inquérito que apura vandalismo em protestos tem 180 investigados
Dois jovens são réus sob suspeita de agredir PM; eles negam e dizem que sofreram tortura psicológica
Polícia nega acusação e questiona por que os rapazes não registram queixa; PM agredido não os reconheceu
Ao menos 180 pessoas são investigadas no único inquérito aberto pela Polícia Civil, em conjunto com a Polícia Militar e o Ministério Público, para identificar os envolvidos em crimes nos protestos de rua do ano passado em São Paulo.
A investigação resultou em pelo menos uma ação na Justiça, em que dois jovens respondem a três acusações, entre elas a de agredir um policial militar.
Eles negam a acusação e dizem à Folha ter sofrido tortura psicológica de agentes.
O "inquérito mãe" --chamado dessa forma por abarcar diversas investigações-- é conduzido pelo DEIC (Departamento Estadual de Investigações Criminais).
A unidade de elite monitorou redes sociais, coletou imagens de câmeras de segurança e convocou jovens para depoimentos em série --mais de 80 manifestantes foram chamados a depor em um mesmo local e horário.
Ederson Duda da Silva, 26, e Daniel Silva Ferreira, 20, foram denunciados à Justiça e são réus em ação sob suspeita de dano ao patrimônio, agressão e desacato. Ficaram presos por três dias, tiveram a fiança paga por movimentos sociais e agora respondem ao processo em liberdade.
São acusados de agredir com pedradas e chutes o PM Wanderlei Paulo Vignoli, 42, encurralado em frente ao Tribunal de Justiça por participantes do terceiro ato contra o aumento da tarifa do transporte público, em 11 de junho.
A cena estampou a "Primeira Página" da Folha do dia 13 de junho e venceu o Prêmio Esso de Fotografia.
Membros do grupo Tortura Nunca Mais, eles dizem que a prisão teve "cunho político" e que foram submetidos a tortura psicológica na transferência do CDP (Centro de Detenção Provisória) Belém 2 para a penitenciária de Tremembé (147 km de SP).
"Levaram a gente para um camburão, aceleravam e brecavam, apagaram as luzes e disseram que íamos morrer lá como terroristas e que, se fosse na ditadura militar, já estaríamos mortos", diz Ferreira.
"A gente não sabia o que estava acontecendo. Não podíamos falar com os familiares", afirma Silva.
A Secretaria da Administração Penitenciária nega tortura e afirma, em nota, que a transferência ocorreu "normalmente" com o "objetivo de preservar a integridade física dos ex-presidiários".
Diz que as acusações são "descabidas" e que "não há registro de reclamações". Eles farão a queixa formal no âmbito do processo.
O PM agredido, Vignoli, não reconheceu os garotos, segundo depoimento dado pelo próprio no inquérito. A acusação se baseia no testemunho do também PM Valdemir Souza Lima, 45, que os aponta como os agressores.
A Folha fez três pedidos de entrevista com Vignoli e Lima, mas foram negados pela Polícia Militar.
Silva e Ferreira afirmam que foram presos duas horas depois e a 2 km do TJ. A defesa aponta diversas falhas no inquérito, como o não colhimento de imagens de câmeras, e entregou uma petição ao Ministério Público cobrando mais investigações.