Saltar para o conteúdo principal Saltar para o menu
 
 

Lista de textos do jornal de hoje Navegue por editoria

Cotidiano

  • Tamanho da Letra  
  • Comunicar Erros  
  • Imprimir  

Raquel Rolnik

Abram alas para o Carnaval de São Paulo!

A inauguração do sambódromo selou o divórcio definitivo do Carnaval com a cidade

Já faz alguns anos que, durante os dias de Carnaval e também nas semanas que o antecedem, novos blocos tomam conta das ruas de diversos bairros da cidade. Mas quem acompanha esse movimento sabe que não tem sido muito fácil abrir alas pra folia passar...

A história do Carnaval de São Paulo é marcada por uma trajetória de confinamento, repressão --e resistência. Entre argumentos de que o Carnaval "atrapalha o trânsito" e promove uma "bagunça", o que já foi uma festa descentralizada e múltipla, ocupando o centro e espalhando-se pelos bairros da cidade, acabou se reduzindo, oficialmente, ao desfile das escolas de samba e a alguns blocos institucionalizados.

Mas, clandestinos, espontâneos, desconhecidos da institucionalidade e literalmente brigando pelo espaço nas ruas, os blocos crescem em quantidade a cada ano.

O Carnaval de rua é uma antiga tradição de São Paulo. Antes mesmo de surgirem as escolas de samba, já existiam em diversos bairros da cidade os chamados cordões carnavalescos. Nos dias de Carnaval, surdos e ganzás soavam em bairros como Barra Funda, Liberdade, Bexiga, Limão, Tucuruvi --territórios negros da cidade. Alguns cordões saíam inclusive pelo centro, arrastando o povão pelas ruas.

Nos anos 1930 a prefeitura começa a intervir no Carnaval, introduzindo concursos entre agremiações. Mas foi nos anos 1960 que o Carnaval paulistano de fato se oficializou, resultando no enfraquecimento do Carnaval espontâneo, com seus cordões e blocos de rua, uma vez que os investimentos na organização e infraestrutura do Carnaval ficaram concentrados no desfile das escolas de samba.

O primeiro desfile oficial ocorre em 1968, na avenida São João. Em 1977, o desfile é transferido para a avenida Tiradentes, onde arquibancadas eram instaladas todos os anos. Em 1991, migra para o seu atual endereço, o sambódromo do Anhembi.

A inauguração do sambódromo selou o divórcio definitivo do Carnaval com a cidade. Este --assim como o autódromo de Interlagos, onde escolas do Grupo II da UESP (União das Escolas de Samba Paulistanas) já foram obrigadas a desfilar --não apenas delimita um único lugar, gradeado, mas também o confina nas margens da cidade.

De alguns anos para cá, porém, impressiona a quantidade de blocos espontâneos que vêm surgindo a cada ano, em um movimento proporcional ao desejo de retomada, por parte dos paulistanos, dos espaços públicos da cidade.

Dialogando com este movimento, um decreto foi publicado pela prefeitura para regulamentar o Carnaval de rua e um cadastro foi aberto, com mais de 160 adesões. O objetivo é programar as intervenções no trânsito e a segurança, e oferecer uma infraestrutura mínima de banheiros químicos, ambulâncias, limpeza e, também, a divulgação de cada grupo e seu percurso.

Fortalecendo a ideia de uma festa pública e aberta como parte da cultura da cidade, o decreto proíbe cordões de isolamento, grades ou barreiras que impeçam a livre circulação do público.

Como expressão cultural coletiva, múltipla e, por natureza, libertária, o lugar da folia é a rua... e São Paulo abre alas para seu Carnaval!


Publicidade

Publicidade

Publicidade


Voltar ao topo da página