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País em protesto

'Perdoar? Eles destruíram uma família'

Casada há 30 anos com cinegrafista, mulher desabafa sobre a morte do marido; colegas prestam homenagens

'Vai ser rápido', disse Santiago Andrade ao sair da redação para ir a manifestação no Rio na última quinta-feira

DO RIO

Na última quinta-feira, o cinegrafista Santiago Andrade, 49, deixou a redação da Band, no Rio, avisando à chefia: "Vai ser rápido. Farei apenas três takes [imagens]".

Duas horas depois, Andrade foi atingido na cabeça por um rojão. Com o impacto, teve afundamento craniano e perdeu parte da orelha esquerda. Por quatro horas, cirurgiões tentaram estancar a hemorragia e reduzir a pressão intracraniana, causadas pelo impacto do rojão.

Ontem, pouco antes das 12h, ele teve sua morte cerebral declarada. Mais de 90% de seu cérebro estavam sem irrigação. A família decidiu doar seus órgãos.

"Foram os três takes mais longos da vida dele. Ele sempre foi muito cuidadoso. Não tem explicação", conta Edeílton Macedo, 58, que conhecia Andrade desde que ele chegou à Band, em 2004.

Carioca, o cinegrafista cresceu em Copacabana. Há três anos, pensando em ter uma vida mais tranquila, mudou-se com a família para Itaipuaçu, em Maricá, na região metropolitana do Rio.

HOMENAGENS

Casado há 30 anos com Arlita, Andrade deixa uma filha e três enteados. Em entrevista à TV Globo, a viúva desabafou sobre o que ocorreu. "Perdoar? Meu marido está indo embora, eles destruíram uma família. Uma família que era unida." Ela também fez um apelo contra a violência nos protestos. "Eu peço que essas pessoas não sejam violentas, que não façam isso. Isso não vai levar a nada."

Foi com o jornalista Alexandre Tortoriello, 38, que Andrade ganhou dois prêmios de mobilidade urbana, em 2010 e 2012. Em 2013, o cinegrafista participou de um curso para jornalistas em área de conflito ministrado pelo Exército.

Com adesão relativamente pequena, uma manifestação convocada pelo Movimento Passe Livre para protestar contra o reajuste dos ônibus no Rio serviu de pano de fundo para uma homenagem e um ato de pesar pela morte do cinegrafista.

Cerca de 50 jornalistas se reuniram no fim da tarde, pouco antes do protesto, em frente à igreja da Candelária. Cinegrafistas de TV e fotógrafos baixaram as câmeras e fizeram um minuto de silêncio em homenagem ao funcionário da Band.

Andrade também foi homenageado no "Jornal Nacional", com aplausos dos jornalistas e vários cinegrafistas virando suas câmeras para uma foto do colega de profissão, projetada num monitor.

MANIFESTAÇÃO

A manifestação de ontem teve início no começo da noite na avenida Presidente Vargas, em frente à Central do Brasil, onde o cinegrafista foi atingido. Depois, o protesto continuou pela a avenida Rio Branco, com direito a chuva de papel picado. O ato reuniu pouco mais do que 500 pessoas --algumas delas estavam mascaradas.

O grupo se concentrou em frente a Assembleia Legislativa e depois seguiu para a Fetranspor (federação que reúne as empresas de ônibus). Lá, protestaram contra o reajuste --a passagem no Rio subiu no último sábado de R$ 2,75 para R$ 3.

Por volta das 20h30 houve um princípio de confusão entre manifestantes e policiais nas escadarias da Câmara dos Vereadores. A polícia não usou bombas de gás lacrimogêneo, mas disparou alguns tiros de paintball (arma de ar comprimido, que dispara bolas com tinta).

Vários manifestantes foram revistados e grupos se reuniam em torno dos policiais que faziam revista, com provocações. Os PMs não reagiram.

Por volta das 21h30 o grupo decidiu caminhar de volta até a Central do Brasil, onde o ato havia começado três horas e meia antes. O grupo foi se dispersando pelo caminho, mas aqueles que chegaram à estação de trens tentaram invadi-la novamente. Não conseguiram. Os portões já estavam fechados.


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