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Laudo diz que algemado atirou na própria cabeça

Jovem tinha as mãos para trás quando morreu no carro da PM; família contesta perícia

ANA KREPP LEANDRO MACHADO DE SÃO PAULO

Um jovem de 20 anos, rendido e algemado com as mãos para trás, entrou em um carro com três policiais militares em Limeira (a 151 km de SP). Saiu morto com um tiro na cabeça. Na avaliação do perito responsável por identificar as circunstâncias da morte, porém, ele se suicidou.

José Guilherme Silva era suspeito de participar de um assalto no dia 14 de setembro do ano passado. Rendido pela polícia, foi revistado na rua antes de entrar no carro da Força Tática.

O jovem não portava armas de fogo, segundo o ouvidor da polícia Julio Cesar Neves, que ouviu a mãe do rapaz e teve acesso ao laudo do IC (Instituto de Criminalística).

Para ele, os PMs atiraram e mataram o garoto dentro carro. "Não tem perito que possa acreditar numa barbaridade dessa [suicídio]", diz.

Peritos criminais ouvidos pela Folha corroboram essa opinião.

Contudo, o especialista responsável pelo caso escreveu no laudo que o rapaz tinha um revólver escondido.

Ainda dentro do carro, relata no documento, José Guilherme atirou na própria têmpora --a uma distância de 50 centímetros da cabeça, de cima para baixo.

O perito argumenta: "É sabido nos meios policiais tanto sobre a habilidade de movimento de alguns detidos, bem como sua condição pessoal de burlar a revista."

Segundo o ouvidor da polícia, exames comprovaram que não havia pólvora nas mãos de José Guilherme.

Claudia da Silva, mãe do jovem, afirma ter visto quando o filho foi colocado no veículo da polícia. "[Os policiais]Me disseram para aguardar na delegacia", conta.

"Depois de várias horas, o delegado avisou que meu filho estava morto", diz ela, que procurou vereadores da Comissão de Direitos Humanos da cidade.

Ela conta que um dos três policiais militares envolvidos na ação lhe disse que era "melhor um bandido morto do que um PM morto".

O ouvidor, que recebeu a denúncia, afirma que o carro da PM foi lavado antes da finalização da perícia. O GPS também indica que a velocidade do veículo era de 40km/h e que ele parou duas vezes por alguns minutos antes de chegar ao hospital.

"Situações incompatíveis de quem está levando um rapaz que acaba de cometer suicídio", diz Neves.

O caso foi encaminhado pela ouvidoria ao Ministério Público e à Corregedoria da PM com um pedido de afastamento dos três policiais suspeitos antes da conclusão das investigações.

A Secretaria da Segurança Pública afirma que a investigação será reaberta e que será feita uma apuração "rigorosa" tanto pelo Instituto de Criminalística quanto pela Corregedoria da PM.

A secretaria diz que não tolera desvio de conduta cometido por policiais. Se ficar comprovado o envolvimento dos PMs, eles poderão responder criminalmente e ser expulsos da corporação.

DESEMPREGADO

Segundo a mãe, José Guilherme tinha sido demitido de seu emprego num frigorífico e recebia o seguro-desemprego enquanto procurava um novo. Neste ano, ele prestaria vestibular para engenharia mecânica.

Claudia diz não saber se o filho participou do roubo do qual foi acusado. Ainda adolescente, ele ficou detido na Fundação Casa por assalto.

"Ele já estava andando na linha, era carinhoso com a família toda, mas eu só poderia garantir se ele assaltou ou não o bar se estivesse lá."


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