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País fecha 8 escolas por dia na zona rural

32,5 mil unidades foram desativadas no campo em dez anos; prefeituras e Estados culpam custos e infraestrutura

Agricultores dizem que medida acelera abandono das famílias do interior do país e facilita evasão escolar

NATÁLIA CANCIAN DE SÃO PAULO

A cada dia, em média, mais de oito escolas da zona rural são fechadas no país inteiro.

Nos últimos dez anos, foram 32,5 mil unidades a menos no campo, segundo levantamento da Folha com base no Censo Escolar.

Somente no ano passado 3.296 escolas desse tipo foram fechadas no país. Agora, há 70,8 mil escolas no campo, ante 103,3 mil em 2003.

A prática é motivo de preocupação do governo federal, que há dois anos enviou ao Congresso um projeto para estancar essa redução anual.

A proposta, aprovada nos últimos dias no Senado e no aguardo da sanção da presidente Dilma, fala nos transtornos à população rural, que "ou deixa de ser atendida ou passa a demandar serviços de transporte escolar". Por isso, a ideia é exigir estudos e consulta prévia à comunidade sobre o fechamento das escolas.

Hoje, prefeituras e Estados se queixam de custos de manutenção e de infraestrutura.

Em alguns casos, o fechamento é acompanhado de uma "nucleação" --quando várias escolas menores são unidas em uma só "escola-polo", maior que as primeiras, ainda na zona rural.

Em outros, o vazio de escolas no campo e as longas distâncias até as escolas-polo obrigam alunos a se deslocar diariamente até a cidade.

É o caso de Diego, 12, da zona rural de Aratiba (RS). Para chegar à escola, ele se despede dos pais às 10h45, após o almoço, e anda por 1 km até um ponto de ônibus, onde sobe em uma van com colegas.

É então deixado na beira da estrada, onde espera 40 minutos pelo ônibus que irá completar o trajeto. Horário de chegada na escola? 12h30.

Após quatro anos nessa rotina, Diego diz que o trajeto cansa, mas já está acostumado --o que não ameniza a preocupação do pai em vê-lo à beira da estrada. "Tem um abrigo, mas, quando chove, eles se molham, porque não cabe todo mundo", diz o agricultor Alcebíades Cense, 53.

Além do risco à segurança das crianças, devido também às condições do transporte escolar em alguns locais, federações de agricultores dizem que a medida acelera o abandono das famílias do campo, facilita a evasão escolar e impede a participação deles na comunidade.

A maioria também critica a falta de investimento na estrutura das escolas do campo.

"Há uma ausência do Estado, que não reforma, não amplia [as escolas]. As famílias dizem: como vou dizer para meu filho continuar aqui, se não tem carteira, não tem banheiro?", afirma José Wilson Gonçalves, da Contag (Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura).

CAMPO SEM ESCOLA

Para Bernardo Mançano Fernandes, da Cátedra Unesco de Educação no Campo, o fechamento dessas escolas se deve ao avanço das grandes plantações, que reduz o número de trabalhadores no campo, e à falta de investimento das prefeituras.

Segundo ele, o fechamento começou há mais de 20 anos --e deve continuar.

Ainda de acordo com Mançano, a nucleação pode ser uma alternativa para a melhoria de algumas escolas do campo, desde que haja um projeto com a comunidade.

Já João Batista Queiroz, professor de licenciatura em educação no campo na UnB (Universidade de Brasília), avalia que a extinção de escolas no interior também pode estimular o êxodo rural.

"Isso [nucleação] não é sinônimo de educação de qualidade. Infelizmente às vezes se pensa unicamente no financeiro, e não no processo de aprendizagem", afirma.


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