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Alegorias

Crônicas da folia - LUIZ FERNANDO VIANNA

Duas avenidas

Para escutar o Milton Cunha, você aumenta o volume; mas aí o Eri Johnson grita no seu ouvido

Existe a Marquês de Sapucaí real e existe a da TV Globo.

Na primeira, se você é um escolhido (imprensa, celebridade, cunhado da amante de um político), vê com algum conforto as belezas e bizarrices dos desfiles.

Na segunda, Papuda em que fui jogado neste ano por motivos pessoais, tudo é "contagiante", "inesquecível", "uma experiência única".

Não há escolas melhores nem piores, apenas iguais. Todas são "lindas", "criativas", "surpreendentes".

Quando, diante das câmeras, a alegoria de um índio é decapitada, só resta a lamúria: "A escola teve um problema".

Você está em casa numa noite de carnaval, no extremo sul da bipolaridade, e a Globo ainda sublinha: imbecil!

E é o samba do controle remoto doido. Para escutar o Milton Cunha, você aumenta o volume. Mas aí o Eri Johnson grita no seu ouvido. E você baixa correndo de novo.

Até que a décima repórter excitada pergunta para a vigésima componente soterrada por uma fantasia de 30 quilos criada por um carnavalesco que, malandro, desfila de camiseta: "E a emoção?". O sono, então, desaba inexorável.

Você sonha que está na Sapucaí e à sua frente, pelo meio da avenida, passeiam bicheiros arrastando putas e políticos de estimação, enquanto os verdadeiros donos da festa são jogados para as margens de um Sambódromo desenhado por um comunista. O carnaval é do povo, mas com torcicolo.

Ao acordar, percebe que não foi sonho, mas déjà vu.

Recorda que, no sábado, testemunhou um linchamento em outra avenida, a Presidente Vargas, no carnaval do Rio real, não o da imprensa e de Paes e Cabral. E vai ver um desenho animado com seu filho insone.


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