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Olga Gums (1936-2014)
Tocava gaita quando estava feliz
IONE DIAS DE AGUIAR COLABORAÇÃO PARA A FOLHATodos os dias após acordar, Olga Gums ia até a varanda do sítio onde morava, em Santa Teresa, na região serrana do Espírito Santo, e sentava em uma cadeira de balanço.
Ali, folheava o jornal -adorava ver as fotos- cantava e rezava. Luterana fervorosa, Olga frequentou a igreja até os 67 anos e tirava de ouvido em sua gaita as músicas que ouvia nos cultos.
A melodia do instrumento que aprendeu a tocar sozinha na adolescência refletia seu estado de espírito: nos dias mais felizes, tocava mais.
A síndrome de Down não a impedia de auxiliar a família nos afazeres da roça. Nascida em Santa Maria de Jetibá (ES), cidade colonizada por alemães da Pomerânia, Olga nunca frequentou a escola e só falava pomerano.
Quando era dia de abater um porco, soprava com alegria sua gaitinha. Sabia que, se ajudasse no serviço, ficaria com o pedaço predileto na partilha dos cortes: o rabo.
Olinha, como era chamada pela sobrinha Sofia, com quem morava havia 27 anos, desde a morte dos pais, era uma "criança grande".
Quem fosse visitá-la não podia esquecer de levar um pão doce. Adorava ganhar ovos de chocolate na Páscoa.
Mas não era comilona. Tinha fome de carinho: vivia pedindo presentes e, aos domingos, fingia ser seu aniversário para ganhar beijos e abraços dos parentes.
Morreu aos 77, na terça-feira (25), mesmo dia em que chegou ao sítio de Santa Teresa o troféu que ganhou por ser a mulher mais velha com síndrome de Down no Brasil.
Hoje, às 9h, a Igreja Luterana de Santa Maria fará uma cerimônia em sua homenagem.