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Vila fantasma

Vazia há um ano e alvo de furtos, Vila Itororó continua à espera das reformas prometidas

EMILIO SANT'ANNA DE SÃO PAULO

Gatos, cerca de 40 deles. Há um ano, eles são os únicos que podem circular livremente pela Vila Itororó, antigo cortiço formado por casas e um palacete de arquitetura surrealista no coração da Bela Vista.

Ali deveria estar em curso uma reforma para a instalação de um complexo cultural com salas de ensaio, restaurantes e um museu de artes cênicas. No entanto, a não ser pelos tapumes que cercam a vila e pelo aspecto de "cidade fantasma", nada mudou.

Em março do ano passado, os últimos moradores foram removidos e realocados em unidades do CDHU na própria região central.

À época, os vizinhos chegaram a comemorar. Esperavam ver seus imóveis e o bairro valorizados com o que imaginavam ser um processo já em marcha de revitalização desse pedaço do centro de São Paulo. Não foi assim.

O projeto da prefeitura, estimado em R$ 50 milhões, nunca saiu da prancheta.

Depois da remoção, dizem os vizinhos, moradores de rua e catadores passaram a saquear o pouco que restou inteiro nas casas do cortiço.

Dois seguranças se revezam 24 horas no local, mas nem isso impediu os furtos.

Portas, batentes, peças de ferro, "o que deu para carregar, levaram", afirma o representante comercial Omarino Tavares, morador de um prédio ao lado da Itororó.

Defensor dos direitos dos animais, ele assumiu uma nova responsabilidade desde que o cortiço foi fechado: alimentar os bichanos.

Todo os dias, o representante comercial leva um punhado de ração e comida até uma das entradas da vila.

De sua janela, o que se vê são as casas vazias e degradadas e a primeira piscina particular da cidade, do início do século 20, coberta de sujeira. Os gatos, em seu banho de sol, claro, também estão por lá.

O ator Paulo Goya, 71, diz que após os saques, os próprios vizinhos recolocaram os tapumes arrancados.

Sua expectativa é que com a revisão do Plano Diretor, entregue à Câmara Municipal, o processo de revitalização da vila possa ser acelerado.

O plano prevê a criação de um Território de Proteção Cultural entre o centro e a avenida Paulista. O objetivo é viabilizar estímulos fiscais a projetos voltados à cultura.

Goya é dono do Casarão do Belvedere, construído em 1927, próximo à vila, onde mantém um centro cultural. Para ele, o futuro do antigo cortiço segue incógnito.

Membro do Conselho Participativo Municipal, órgão de controle social das ações da prefeitura, o ator diz não saber o que está sendo feito para tirar da gaveta o projeto de revitalização. "Não estamos sendo informados de nada."

PARCERIA

A Secretaria Municipal de Cultura afirma que a recuperação da vila é prioridade para a administração municipal.

Porém, como não há verba prevista para tanto, diz o chefe de gabinete da pasta, Guilherme Varella, a prefeitura pretende recorrer à iniciativa privada. "A revitalização vai ser feita em um projeto de PPP (Parceria Público Privada)."

"Submetemos à Lei Rouanet e estamos na fase de captação de recursos. Mal foi aprovada, já há empresas que sinalizaram interesse."

Apesar da expectativa, Varella diz que não há prazo para o projeto ser concluído.

Se a notícia não deixa todos os moradores da região satisfeitos, Omarino pelo menos tem um alento. Por mais algum tempo, os gatos da Itororó terão onde morar.


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