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Análise

Único, intérprete imprimia sua marca em qualquer gênero

LUIZ FERNANDO VIANNA ESPECIAL PARA A FOLHA

Jair Rodrigues cantava com tanta alegria que até incomodava.

Suas interpretações exageradas às vezes prejudicavam as músicas. Mas a graça, com ou sem trocadilho, estava nesse excesso. Ele se profissionalizou em São Paulo no momento em que o estilo de João Gilberto se impunha como paradigma. E seguiu firme na direção contrária. Acertou.

Em vez de virar mais um epígono mediano de João, tornou-se um intérprete único, que imprimia sua marca a qualquer gênero: sambas, toadas e até o proto-rap "Deixa Isso pra Lá", seu primeiro grande sucesso, de 1964.

Seu suingue não era tão elegante quanto o de seu contemporâneo Jorge Ben. Era intenso, praticamente convocando o ouvinte para a pista, sem passar pela corte do convite.

Na dupla com Elis Regina, nos discos "Dois na Bossa" e no programa de TV "O Fino da Bossa", firmou uma bossa nova 2.0: agitada, em alto volume e com alguns recados à ditadura que então se implantava.

Aliás, se o aparentemente apolítico Jair percebeu todo o clamor que havia em "Disparada", covencedora do Festival da Record de 1966, não se sabe bem, mas foi sua voz quem deu à música a força necessária.

E é o que ele costumava fazer com os sambas, certamente o seu melhor terreno. Transformou o carnavalesco "Tristeza", de Niltinho e Haroldo Lobo, numa beleza de qualquer estação ou estado de espírito.

E assim se deu com "Triste Madrugada" (Jorge Costa), "Orgulho de um Sambista" (Gilson de Souza) e com os sambas-enredos do salgueirense Zuzuca, por exemplo.

Embora paulistão, foi, assim como Germano Mathias, um intérprete contumaz e muito eficiente dos sambistas cariocas.

Artista da indústria, buscou o sucesso também na seara sertaneja e em romantismos diversos.

Parecia fazer com verdade e prazer o papel de palhaço, plantando bananeiras nos palcos ou descendo deles para brincar com a plateia. Esta gostava; as gravadoras, nos tempos idos das vendas fartas, ainda mais.

Agora em 2014, fez uma profissão de fé ao realizar dois CDs com título "Samba Mesmo". Ele foi, acima de qualquer coisa, uma grande voz do samba.

E os CDs contaram com a produção do filho Jair Oliveira, que teve o cuidado de selecionar ao lado do pai um repertório de primeira qualidade, embora com certas obviedades. E de chamar ótimos músicos para o acompanhamento.

O resultado foi irregular, mas a alegria era a mesma de sempre. E permitia supor um novo impulso para a vida profissional do cantor, com shows interpretando sambas clássicos. Não houve tempo.

"O sorriso do Jair", para usar a expressão que deu título a seu disco de 1966, foi uma proposta existencial e até estética. Vai ficar para sempre.


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