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Apenas uma MÃE

Empresária largou tudo para cuidar do filho, que ficou tetraplégico após acidente de paraquedas, mas refuta o título de heroína

GIOVANNA BALOGH DE SÃO PAULO

Ela nunca vai esquecer aquele dia. Médicos, uma assistente social e até um padre levaram-na com o marido para uma sala do hospital e perguntaram se o seu filho desejaria seguir a vida como um vegetal ou desligar os aparelhos que o mantinham vivo.

O caso aconteceu em outubro de 2012 em Phoenix, no estado americano do Arizona, com a família da empresária Rosana Polisel, 52, após o filho Tomás, 29, ter sofrido um acidente de paraquedas.

"Deus me deu meu filho e eu não assinei nenhum contrato dizendo que só teria ele comigo se ele estivesse bem", diz Rosana, que também é mãe de Maíra, 28 e Vitor, 27.

Ao receber a notícia, ela questionou os médicos se houve morte cerebral. "Eles responderam que não. No Brasil, os aparelhos jamais seriam desligados e como católica eu não poderia fazer isso. Implorei para que lutassem pela vida do meu filho", relata.

Dias depois, ela soube que só faltava a sua assinatura para que desligassem os aparelhos. "Milhões de leoas acordaram em mim para defender meu filho. Eu tinha medo de tudo e de todos e não confiava em ninguém."

O ACIDENTE

O acidente aconteceu nas férias de Tomás, em 26 de outubro. O paraquedas não abriu e o reserva se enroscou com o principal, fazendo com que ele caísse em parafuso.

Quem conhece a história de Tomás considera um verdadeiro milagre ele ter sobrevivido quase sem nenhum arranhão ou hemorragia.

A enfermeira e o paramédico que resgataram Tomás foram visitá-lo na UTI (Unidade de Terapia Intensiva), pois não acreditavam no que tinham presenciado.

O jovem saiu apenas com duas costelas trincadas, mas ficou tetraplégico por causa de uma forte pancada na cabeça. "Ele só tinha um ralado no dedo da mão, nenhum roxo ou sangue", conta.

Na época, Tomás era um jovem bem-sucedido. Analista de sistemas, trabalhava para uma multinacional. Era apaixonado por esportes radicais e tinha experiência com 53 saltos no Brasil --aquele foi seu primeiro salto no exterior.

Rosana recebeu a notícia por um amigo do filho. "O chão se abriu e comecei a gritar desesperada, sozinha em casa. Liguei para o meu marido, que chegou em seguida, assim como vários parentes e amigos", recorda.

A empresária, que é dona de uma agência de turismo, diz que não lembra nem por qual empresa aérea viajou. Foram dois dias de viagem, já que uma ameaça de tornado atrapalhou os voos.

Até lá, foi sendo informada sobre o estado de saúde do filho pelos tios do jovem, que estavam de férias no país, e por dois amigos do rapaz que o acompanhavam na viagem.

AJUDA

Rosana diz que mesmo antes de chegar ao hospital contou com a ajuda de brasileiros que vivem em Phoenix, por meio de redes sociais.

"Nos levaram carinho, comida, força, pão de queijo, lugar para ficarmos, todo tipo de ajuda", lembra Rosana.

No Brasil, foi feita uma corrente de orações e familiares foram até Aparecida, no interior de SP, para rezar.

Cerca de 40 dias após o acidente, a família conseguiu trazer o jovem para o Hospital das Clínicas, em São Paulo. Rosana conta que temia que o filho não resistisse à longa viagem.

Durante toda a internação, Tomás passou por várias cirurgias --tantas que a mãe diz ter "perdido as contas".

Em meio aos altos e baixos na recuperação de Tomás, seu outro filho, Vitor, casou-se em abril. Ela fez questão que ele não cancelasse nada, mesmo Tomás sendo padrinho.

"Infelizmente não consegui participar de nada dos preparativos", conta. No dia do casamento, achou que não conseguiria nem parar em pé.

"Na hora que vi o Vitor de noivo, percebi que também tinha que ser forte por ele. Uma força vinda de Deus me manteve com um lindo sorriso no rosto e assim foi na cerimônia, na festa", diz.

RECUPERAÇÃO

Em setembro de 2013, Tomás pôde enfim ir para casa. Dias após a alta, porém, o rapaz teve febre e voltou a ser internado por mais dois meses, com meningite.

Recuperado, ele voltou para casa, onde foi montada uma estrutura para recebê-lo com cuidados de neurologista, fisioterapeuta, fonoaudiólogo e outros especialistas.

O último dia 11 de fevereiro foi marcante para a família --Tomás fez sinal de positivo pela primeira vez. "Foi uma alegria, choro, muita emoção", relata Rosana.

Atualmente, ele se comunica com os olhos. Uma piscada mais forte, por exemplo, quer dizer sim. "Ele escolhe a roupa dele, se quer receber visita, passear, ficar na cama ou na cadeira de rodas", explica.

O neurologista de Tomás diz que as melhoras que ele vem apresentando são inesperadas, mas Rosana não espera vê-lo voltar a andar e falar como antes.

Ela conta que hoje, ao ver a recuperação dele, não descarta a possibilidade de permitir que Tomás salte de paraquedas novamente no futuro.

"Antes acharia isso uma loucura, mas ao ver a vontade dele de viver, mudei de opinião. Se isso fizer ele abrir um sorriso de novo, vou deixar."

Para cuidar do filho, Rosana largou a profissão ainda quando estava nos EUA. Ela não se considera uma heroína por tudo o que faz, apenas "uma mãe que ama".

ESPERANÇA

Muito religiosa, Rosana diz que nunca questionou Deus, mas que tem seus momentos de tristeza --saudades de receber um abraço ou ouvir Tomás a chamar de "mamusca", como sempre fazia.

"Mas logo me encho de forças e continuo. Uma das coisas que aprendi é que não podemos colocar mais peso onde já está pesado", relata.

Nesse Dia das Mães, o primeiro de Tomás em casa, Rosana se considera uma felizarda por poder passar o dia e ir à missa com os três filhos.

"Nesse Dia das Mães, muitas não terão a oportunidade de abraçar seus filhos. Eu terei esse presente, o que mais posso querer?"


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