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Estações fantasmas

Capital tem cinco antigas paradas de trem desativadas; uma é 'cuidada' por ambulantes, as outras caem aos pedaços

LEANDRO MACHADO DE SÃO PAULO

O dia na estação Guaianazes começa quando a ambulante Marleide Feitosa, 43, entra com duas sacolas cheias de meias, toucas e blusinhas infantis coloridas. Em outra sacola, ela leva uma garrafa com água sanitária.

"Agora vamos lavar o chão, porque é a gente que limpa tudo. Do governo aqui só passa a polícia. E quando ela passa, a gente corre", diz, pegando uma vassoura do colega Jurandir Ferreira, 51.

Marleide trabalha há 18 anos na estação antiga de Guaianazes, na zona leste de São Paulo. Jurandir é mais velho: há 21 anos vende, no mesmo canto, cintos masculinos, relógios e sombrinhas.

São eles, e mais oito ambulantes, que cuidam de grande parte do espaço. Varrem e desinfetam. "Os moradores têm medo de vir aqui. Só passam porque a gente faz a segurança", diz Marleide.

É corrente no bairro que entrar à noite na estação antiga traz problemas. Já houve roubos. "De manhã, a gente joga cachimbos de crack fora", conta a camelô.

O imóvel é uma das passagens que liga dois lados do bairro. Fica a poucos metros da estação atual, de onde partem as composições da linha 11-coral da CPTM. O prédio inativo é de 1982.

A CPTM é a dona, mas cedeu o uso à prefeitura. Nos próximos meses, a estação deve ganhar equipamentos de atendimento à população. Procurada na tarde de sexta-feira, a subprefeitura disse que fará um mutirão de limpeza no local.

INATIVAS

Guaianazes é uma das cinco estações desativadas na capital que ainda permanecem em pé, mas sem uso. Elas foram fechadas para dar lugar a outras mais modernas ou porque a linha foi extinta.

Na zona leste, há outras duas inteiras: São Miguel Paulista, fechada no fim do ano passado, e Vila Matilde.

O prédio dessa última é de 1948. Fechado em 2000, já foi usado para exposições, mas hoje está inativo. Há ferros enferrujados. As catracas continuam inteiras, mas empoeiradas. Um vigilante faz, sozinho, a segurança.

Já em São Miguel Paulista, a reportagem só encontrou vigilantes particulares. Na entrada, havia poças de águas causadas por vazamentos. "A gente já reclamou, dá medo da dengue", diz Claudio Marques, 63, dono de uma banca de jornal em frente.

A CPTM diz o local será usado como apoio à estação atual do bairro.

Em Marsinac (zona sul), a estação Evangelista de Souza foi ocupada até o ano passado por famílias da região. Ela fica em uma estradinha de terra de acesso difícil aos carros, em meio a uma mata. A CPTM não soube dizer quem é o dono da construção.

Mais problemática é a situação da antiga estação Cidade Dutra, em Interlagos. Erguida em 1957, ela hoje cai aos pedaços.

Só o que restou do prédio é uma pequena plataforma e um barracão de madeira. O lixo se amontoa e o cheio de excrementos é forte. O espaço ainda serve de depósito de obras da CPTM.

"Eu descia aqui quando visitava minha sogra, é uma pena a estação estar desse jeito", diz Telma Fagundes, 75. "Era bem movimentada".

"E a passagem só custava 20 centavos", relembra seu filho, o mecânico Wagner Vieira, 50, em frente ao barracão. A CPTM diz que estuda restaurar o imóvel.

RESTAURAÇÃO

O destino de estações-fantasma é um dilema em cidades de outros países. Em Paris, por exemplo, há 16 delas.

Uma candidata à prefeitura da cidade francesa prometeu neste ano que, se ganhasse as eleições, faria nas estações uma espécie de centro cultural com piscinas, teatro, salas de espetáculo, casa noturna e restaurantes.

No Brasil, o destino escolhido são a demolição, o completo abandono ou uso por órgão públicos. O pesquisador Ralph Giesbrecht estima que já existiram mais de 5.000 estações ferroviárias no Brasil -em São Paulo, foram cerca de 800. A CPTM diz que onze delas são tombadas.

É impossível precisar o número de prédios desativados porque, segundo ele, o cenário muda muito rapidamente. "Com essa nova, só o bairro de São Miguel teve três estações", relata.

Giesbrecht, que mantém há 13 anos um site sobre o tema (www.estaçõesferroviarias.com.br), discorda da ideia de transformar as estações em centros culturais.

"Acho que estação tem que ser estação, com mobiliário original, inclusive. Temos tantas delas abandonadas, que, se virassem centros culturais, seríamos o mais país mais culto do mundo", diz.


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