Lista de textos do jornal de hoje Navegue por editoria
Hyperides Lamartine (1926 - 2014)
Amou Iêda, a aviação e o agreste potiguar
FABRÍCIO LOBEL DE SÃO PAULOQuando foi matriculado na escola, Pery descobriu que se chamava Hyperides. Não gostou muito do "novo nome". Afinal, como irmão de Iara e de Poti, nada mais razoável que continuar sendo chamado pelo nome guarani que o acompanhou na infância.
Pois Pery cresceu nos corredores da primeira escola de aviação do Rio Grande do Norte, inaugurada por seu avô, o governador Juvenal Lamartine. Aprendeu a pilotar e chegou a ser instrutor de voo.
Amava dirigir o grande Catalina, avião anfíbio com que às vezes pousava sobre o rio Potengi, em Natal.
Aos 22 anos, apaixonou-se por Iêda. Disposto a conquistá-la, Pery a convidou para um voo de monomotor. Os dois passaram a tarde sobrevoando as praias da cidade e fazendo acrobacias no ar. Anos mais tarde, a garota aceitou se casar com o piloto.
Um dia, no entanto, Pery descobriu ser daltônico, o que o afastou de grandes empresas de aviação. Frustrado por não poder seguir a carreira, voltou à cidade em que nascera, Caicó, no agreste potiguar, com o intuito de ganhar a vida como fazendeiro.
Amava a terra dos pais e as sombras das oiticicas no sertão. Depois da vida no campo, abriu ainda uma agência de turismo em Natal e dedicou-se à literatura.
Entre os 17 livros publicados estão obras sobre a história da aviação e o sertão do Rio Grande do Norte.
Morreu de câncer no fígado, aos 88 anos. Deixa mulher, quatro filhos e oito netos. Uma missa de sétimo dia será celebrada nesta sexta-feira, às 18h, no aeroclube de Natal, onde aprendeu a pilotar.