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Minha História Anna Paula Caldeira, 29

Nascida da Ciência

Prestes a completar 30 anos, primeira bebê de proveta do Brasil relata como foi viver em meio à curiosidade do país

DIEGO BORGES COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

RESUMO Há 30 anos, a comunidade científica brasileira comemorava uma grande conquista, o nascimento do primeiro bebê de proveta do Brasil, Anna Paula Caldeira, no Paraná. Apelidada de Proveta por colegas de escola e com a infância rodeada de repórteres e curiosos sobre o seu desenvolvimento, a hoje nutricionista lembra com carinho do "tio Naka", Milton Nakamura, médico responsável pela técnica e que fazia questão de participar de suas festas de aniversário.

Quando meus pais, Ilza e José, resolveram planejar o meu nascimento, um marco na história da medicina do Brasil e da América Latina estava sendo escrito. Antes mesmo da minha chegada, muitos curiosos e jornalistas já especulavam como eu iria nascer. O motivo estava ligado à notícia de ser o primeiro bebê de proveta brasileiro.

Eram 21h do dia 7 de outubro de 1984, em São José dos Pinhais (PR), quando nasci com 3.350 kg e 47 cm. Para sair da maternidade, meus pais e o médico Milton Nakamura, responsável pela técnica até então inédita no país, organizaram uma entrevista coletiva para me apresentar aos jornalistas.

Minha mãe estava casada pela segunda vez e meu pai ainda não tinha filhos.

Por meio da ginecologista dela, conheceram a clínica do doutor Nakamura, especialista em reprodução humana que se inspirava nas técnicas de fertilização "in vitro" do fisiologista Robert Edwards, que permitiu o nascimento de Louise Brown em 1978, considerada o primeiro bebê de laboratório do mundo.

Foram vários meses de viagens para São Paulo para os acompanhamentos.

Das cinco mulheres que faziam o tratamento, algumas já tinham tentado engravidar mais de uma vez, sem sucesso, e com a minha mãe foi já na primeira tentativa. Ela era a candidata menos provável, estava com 36 anos e havia tido uma inflamação que comprometeu as trompas, conhecida como paniculite pós-parto, logo depois do nascimento do meu quinto irmão, do primeiro casamento dela.

Desde pequena, sabia que meu nascimento era algo revolucionário para a medicina e, por isso, meus pais sempre foram muito disponíveis com o assédio das pessoas que queriam saber como estava o meu desenvolvimento.

A grande curiosidade era saber se eu era "normal", por exemplo, se tinha todos os dedos das mãos. Outras mães também procuravam pela minha, até mesmo por cartas e telefonemas, para entender como era o tratamento.

Sempre havia repórteres em casa, e meus pais faziam questão de me explicar com muita naturalidade o que acontecia, conforme o meu amadurecimento se dava.

Lembro que uma vez eles explicaram que o doutor Nakamura pegou uma sementinha do papai e outra da mamãe para gerar a minha vida.

Fui extremamente desejada, e isso é uma sensação muito gostosa de ter.

Quando pequena, meus álbuns de fotografia eram as revistas em que eu aparecia. Minha mãe conta que eu chegava na casa de amigos e pedia para ver o álbum de fotografia igual ao meu. Ainda guardo alguns desses recortes.

Na escola, era conhecida como Proveta, porém o apelido nunca me incomodava, era como se fosse uma identificação. Além disso, era danada e passava sempre com a média raspando. Uma vez até quiseram aplicar o teste de QI em mim, porque existia o mito de que bebê de proveta tinha QI elevado, porém minha mãe não autorizou.

O doutor Nakamura sempre foi uma pessoa bem próxima da minha família. Ele me inseriu na vida dele, e eu o chamava de tio Naka. Quando ele viajava, sempre trazia presentes, me convidava para ir a São Paulo e participava dos meus aniversários. Infelizmente, em 1997, ele morreu num acidente de carro.

Procuro viver a minha vida com simplicidade. Tenho duas tatuagens no corpo, uma delas é uma borboleta e simboliza justamente isso.

Outra é a palavra "Inspiración", em espanhol, para buscar inspirações para viver. O sapateado, que pratiquei por 18 anos, é uma das minhas grandes paixões.

FILHOS

Nunca participei de pesquisas científicas, mas acabo trabalhando com médicos e também experimentos sobre nutrição, graduação que terminei em 2005.

Já ouvi muitas histórias de mulheres que tentam engravidar, mas não conseguem. Ainda não tenho filhos, mas se tivesse que optar pela inseminação artificial ou pela adoção, faria sem problemas.

Muitos me perguntam como será a minha festa de aniversário deste ano, mas ainda não planejei nada.


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