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'Estou pegando fogo', disse motorista ferida

Neuza Nogueira, 46, fez relato ao marido depois que o ônibus que dirigia foi atacado em Guarulhos no domingo (8)

Salva por passageiros, condutora teve 70% do corpo queimado; para colegas, crime é vingança de criminosos

ROGÉRIO PAGNAN DE SÃO PAULO

"Amor, me socorre. Estou pegando fogo", disse a motorista Neuza Nogueira, 46, ao marido, antes de a ligação ser interrompida.

O relato é do também motorista Argeu dos Santos. Ele recebeu o telefonema de Neuza, sua mulher, por volta das 19h15 de domingo (8). Naquele momento, o ônibus que ela dirigia era atacado.

O crime, segundo a polícia, ocorreu perto do km 220 da rodovia Presidente Dutra, em Guarulhos (Grande São Paulo), e envolveu mais de 20 pessoas. Entre elas, havia mulheres e crianças.

O grupo conseguiu parar o veículo dirigido por Neuza, da viação Campo dos Ouros, após atingi-la com uma pedra na cabeça.

Em seguida, jogaram gasolina no veículo e no corpo da motorista. Neuza foi resgatada por passageiros.

Ela teve 70% do corpo queimado e foi transferida na tarde desta segunda-feira (9) para o Hospital Geral da Vila Penteado, segundo a família. Seu quadro de saúde é considerado grave, porém estável.

A cobradora, que não teve o nome revelado, ficou em estado de choque.

A Polícia Civil deve ouvir as primeiras testemunhas na manhã desta terça (10). Até a noite de ontem (9), nenhum suspeito havia sido preso.

Para os colegas de Neuza e seu marido, o ataque ao ônibus ocorreu em reação à morte de dois suspeitos de roubo no dia anterior --sábado (7). O crime aconteceu próximo ao local, também na rodovia Presidente Dutra.

Três homens anunciaram um assalto a um ônibus da mesma viação, a Campo dos Ouros. Quando recolhiam dinheiro das vítimas, um dos passageiros começou a atirar. Dois dos suspeitos e uma passageira foram mortos.

A polícia disse que os suspeitos ainda não tinham sido identificados. Um deles, que aparentava cerca de 20 anos, tinha uma tatuagem com símbolo de demônio nas costas e outra com a imagem de Jesus, no braço direito.

O sindicato dos motoristas de Guarulhos (Sincoverg) informou que deve promover nos próximos dias uma ação contra a violência sofrida por Neuza. "Agiram pior que animais", afirmou o diretor de comunicação, Jailson Borges Costa.

Na capital paulista, pelo menos 74 veículos foram queimados em ações criminosas e em protestos desde o início do ano. Em Guarulhos, foram pelo menos 30, de acordo com o sindicato.

A polícia investiga a participação de grupos criminosos em alguns dos ataques ao transporte coletivo.

Segundo a família, Neuza, a "Baixinha", que fez aniversário no último dia 6, é a única de dez irmãos que trabalha como motorista, há 20 anos. Desses, quase 12 dirigindo ônibus.

"Uma excelente motorista", diz o marido. "É uma baixinha com coração de guerreira", afirma.

Neuza tem três filhos. O mais novo, de três anos, é fruto do relacionamento com Santos. O motorista conta que estava perto do terminal Armênia, na região central de São Paulo, quando recebeu a ligação da mulher. Pensou que ela falaria sobre seu horário de saída do trabalho para buscar o filho.

Como Neuza não conseguiu dizer onde ocorria o ataque, Santos teve de esperar uma nova ligação, que foi feita pela cobradora do veículo.

"Entrei em desespero. Se eu pudesse, andaria 100 quilômetros em cinco segundos para ajudar. Mas não sabia onde ela estava", afirmou ele.


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