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Rua onde caiu viga deveria estar fechada, dizem engenheiros
'De obra que tem risco de cair não se pode passar embaixo', afirma professor; acidente em monotrilho matou operário
Construtora diz que trabalho feito já tinha sido repetido mais de 270 vezes sem qualquer tipo de incidente
O ajuste na viga de 90 toneladas que despencou sobre a rua Vieira de Morais (zona sul de São Paulo), no fim da tarde de segunda-feira (9), não deveria ter sido feito com a via aberta ao trânsito, dizem técnicos ouvidos pela Folha.
O acidente nas obras do monotrilho da linha 17-ouro do Metrô matou um operário (Juraci Cunha dos Santos, 27) e deixou outros dois feridos.
A viga caiu de forma perpendicular à rua, bloqueando a Vieira de Morais. Na prática, qualquer veículo que estivesse passando por ali poderia ter sido atingido --testemunhas dizem que um ônibus escapou por menos de cinco minutos.
"De obra que tem o risco de cair não se pode passar embaixo. É algo básico", afirma João Merighi, engenheiro e professor do Mackenzie. "Tanto tinha o risco que ela caiu."
"É uma total imprudência", diz outro engenheiro, Vagner Landi. Morador da região, ele assistiu à colocação de dezenas de vigas e concorda que esse tipo de trabalho precisaria ter sido feito com a rua totalmente fechada.
O bloqueio da Vieira de Morais só aconteceu durante a madrugada da segunda-feira (9) para o içamento da viga de sustentação.
De manhã, o trânsito foi liberado, exceto pelo trecho do acidente, que permanecia bloqueado na tarde de terça (10).
Segundo a CET (Companhia de Engenharia de Tráfego), cabe à construtora do monotrilho pedir a interdição das vias que serão afetadas.
Antes do acidente, havia uma solicitação para que a Vieira de Morais fosse fechada na madrugada desta terça (10), para a continuidade das obras, que não ocorreram.
VÍDEO
Uma câmera de segurança num prédio vizinho filmou o momento em que a viga caiu. A estrutura despencou a 15 metros da av. Washington Luís, que tem trânsito sempre intenso no final da tarde.
A queda da viga ocorreu a poucos metros dos carros que passavam por essa avenida.
A Washington Luís foi totalmente liberada para os carros depois das 9h desta terça-feira (10), mais de 16 horas depois do acidente, agravando os congestionamentos.
Segundo o consórcio Monotrilho Integração, responsável pelos trabalhos, os dois funcionários que se feriram e foram internados no hospital não corriam risco de morrer.
270 VEZES
Falando pelo consórcio do qual faz parte, a construtora Andrade Gutierrez afirmou que "a obra é executada dentro dos mais rígidos padrões de segurança internacionais" e respeitando os dias e horários autorizados pelos órgãos responsáveis".
"O consórcio Monotrilho Integração esclarece que a operação de ajustes de vigas realizadas ontem [segunda] já tinha sido repetida mais de 270 vezes sem qualquer tipo de incidente", disse a empresa.
Ela não detalhou por que o ajuste da viga ocorreu sem a interdição da via.
Questionado ontem, o Metrô, empresa que pertence ao governo de São Paulo, voltou a dizer que está cobrando do consórcio uma rápida apuração das causas do acidente.
INVESTIGAÇÃO
Tanto a Polícia Civil quanto o Ministério Público do Trabalho vão investigar o que provocou a queda.
Idealizada para ser entregue antes da Copa do Mundo deste ano, a linha 17-ouro do monotrilho deixou de ser prioridade quando o estádio do Morumbi saiu do Mundial.
A primeira fase, que está em construção, vai ligar a região da marginal Pinheiros ao aeroporto de Congonhas por via suspensa, ao longo de toda a avenida Jornalista Roberto Marinho, na zona sul.
Apesar do cronograma oficial anunciar a entrega dos trens para dezembro, a obra somente deve ser usada pela população em 2015.