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Não é história de pescador

Dado como desaparecido nas chuvas, homem ficou 2 dias em ilha fluvial no Paraná; para se salvar, passou 12 horas em cima de árvore

LUIZ CARLOS DA CRUZ COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DE CASCAVEL (PR)

A copa de uma árvore foi o único refúgio possível para Josias Camilo da Graça, 52.

Surpreendido pela enxurrada após as fortes chuvas que atingiram o Sul do país no fim de semana, o pescador foi dado como desaparecido no domingo (8). Acabou resgatado dois dias depois, em uma ilha fluvial em Francisco Alves, no noroeste do Paraná.

Segundo a Defesa Civil, ele ficou mais de 12 horas em cima da árvore. De madrugada, com medo de cair enquanto dormia, chegou a usar uma corda para se amarrar.

"Foi uma experiência forte, mas fiquei na boa", disse.

Só no Paraná, o Estado mais atingido pelos temporais, 147 dos 399 municípios foram afetados e 11 pessoas morreram. Outras duas continuam desaparecidas.

No domingo, o barraco e o barco de Graça foram levados pelas águas. Daí em diante a situação na ilha do rio Piquiri só se agravou.

"A água estava batendo na minha cintura. Então subi para riba [margem alta do rio]. Peguei três tábuas e preguei na árvore. Fique lá em cima até umas 10h da noite [de segunda] e a água só subia", contou.

"A água levou tudo: o barraco em que eu morava, o bote. Fiquei com medo de cochilar e cair. Peguei uma corda e me amarrei. Na madrugada, a água estava batendo nos meus pés, e tive que me agarrar na árvore."

O pescador conseguiu levar para o refúgio uma garrafa térmica com água e uma maleta com roupas. Para se proteger da chuva e do frio, usou plásticos.

"No outro dia, quando amanheceu, não tinha nada. A água tinha levado tudo. Levou os dois ranchos [barracos], o meu e o do falecido [um homem que morava na ilha e morreu anos atrás]", recorda-se. "Aí é que fiquei com medo. Senti muito frio, mas Deus me protegeu."

Josias só foi resgatado porque um conhecido lembrou que ele costumava passar dias na ilha pescando e, da margem do rio, chamou-o até ouvir resposta.

A Defesa Civil de Francisco Alves foi acionada, mas não tinha estrutura para chegar ao local e precisou de ajuda da vizinha Palotina.

Quando foi resgatado, Graça reclamou de dores nas pernas, mas dispensou uma passagem pelo hospital.

"Não gosto nem de lembrar, mas agora estou bem. Fui salvo pelas mãos de Nossa Senhora Aparecida."

A aventura involuntária, no entanto, não foi suficiente para Graça desistir da ilha.

"Sou teimoso, vou fazer outra casinha lá. Vou lá carpir, plantar feijão, mandioca. Fico lá 15 dias e volto para a cidade. Se existe uma riqueza boa é a terra. A água é perigosa."


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