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Foco

Por clientes VIP, ponto de táxi proíbe aplicativo

Taxistas rejeitam corridas por celular para atender freguesia cativa de Pinheiros, em SP

HELOISA BRENHA DE SÃO PAULO

Nem Easy nem 99. O ponto de táxi na esquina das ruas Oscar Freire e Artur Azevedo, em Pinheiros, ateve-se à corrida à moda antiga e aboliu o uso de aplicativos que detectam clientes nas redondezas, em benefício dos fregueses antigos do bairro, na zona oeste de São Paulo.

"Temos que ficar à disposição da nossa clientela VIP", afirma o coordernador do ponto Aderlindo Rolins de Moura, 72. Há 40 anos na praça, o taxista atende a uma vizinhança de juízes, professores universitários e médicos, principalmente do Hospital das Clínicas, a 500 m dali.

"Os clientes estavam reclamando que o ponto estava vazio e não conseguiam pegar táxi. Todo mundo saía com o aplicativo", conta. Aderlindo, então, regulamentou o uso dos apps: aceitar corridas por tablets e celulares, só em fins de semana e feriados.

Ainda assim, o taxista não pode deixar o local vazio e precisa avisar que vai sair pelo app, mostrando a tela do celular para o primeiro da fila.

Em vigor há seis meses, a regra agradou passageiros cativos do ponto em Pinheiros, um dos distritos mais antigos e o sétimo com maior proporção de ricos entre os 96 da cidade, segundo a última pesquisa DNA Paulistano do Datafolha, feita em 2012.

"Não uso carro, computador ou celular --o táxi para mim é como uma prótese", diz o filósofo Paulo Arantes, 71, que mora em frente ao ponto.

O professor aposentado da USP é cliente preferencial de Aderlindo. "Ele é nota 10. Fez até abaixo-assinado quando o [então prefeito] Jânio Quadros mudou o ponto de lugar, nos anos 80", diz o taxista.

O filósofo, aos risos, confirma: "Ficava terrível na outra calçada, o passageiro abria a porta no meio da rua."

Também moradora do prédio em frente ao ponto, a médica do HC Suze Jacon, 53, elogia os motoristas. "Estão sempre à disposição e ainda cuidam do condomínio. Dá segurança tê-los por perto".

O cardiologista da Unifesp Aécio Flávio Teixeira, 42, afirma que também abre mão do celular para pegar táxi por ali. "É mais cômodo, a gente já se conhece. Vivo esquecendo carimbo, jaleco no carro, e os taxistas quebram o galho e voltam para me entregar", diz.

TODA REGRA...

O veto aos aplicativos, porém, não foi de cara aplaudido pelos 20 taxistas da esquina. "Difícil foi enquadrar os bebês' [novatos] no sistema", diz o taxista Orlando Neves de Azevedo, 75, um dos seis septuagenários do grupo.

Na praça há seis meses, Leandro Caires de Souza, 31, foi um dos que mais sentiu a decisão. "O aplicativo é bom de madrugada, quando os jovens saem pelos barzinhos daqui", pondera.

A taxista Margareth Alexandre da Silva, 49, é a favor da regra, com ressalvas. "Tem clientes de mais idade que dependem do nosso serviço. Mas, na rua, o aplicativo é bom para pegar corrida. Também não podemos ficar para trás na tecnologia", afirma.

Apesar das críticas, a percepção geral é de que o veto beneficia o grupo. "Nem celular a gente passa para os clientes, só o telefone do ponto, que é para todo mundo ter serviço", orgulha-se Aderlindo.


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