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Minha História - Josevaldo da Silva

2 cm para respirar

(...) Ajudante de pedreiro relata as horas de desespero vividas por sua família, soterrada após desabamento de uma obra

RESUMO
O ajudante de pedreiro Josevaldo da Silva, 24, passou pouco mais de 34 horas sob os escombros do prédio em obras no qual trabalhava, em Aracaju (SE). Ele estava dormindo no local com a mulher, Vanice, 31, a filha dela, Ane Gabriele, 8, e o filho do casal, Ítalo Miguel, de 11 meses. O edifício de quatro andares desabou na madrugada de sábado (19) e a família só foi retirada no início da tarde de domingo (20). O bebê não resistiu e morreu pouco depois do resgate.

(...) Depoimento a

RAFAELLA VIEIRA COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, EM ARACAJU

Com o barulho [do desabamento], achamos que uma laje tinha caído, mas era o prédio todo. Foi muito rápido.

Nos primeiros momentos, fiquei muito nervoso. Apegamos com Deus e ficamos deitados no colchão, eu e minha mulher, do meu lado minha filha [de criação] e do lado da Vanice, o menino.

Nós estávamos enterrados e só tinha 2 cm para respirar.

Meu filho passou quase dois dias vivo. Minha mulher não tinha como amamentar e ele se mexia muito, estava frio. O oxigênio enviado foi insuficiente, e o espaço era muito pequeno.

Não consegui dormir, porque o bebê estava nervoso e se mexia muito. O desespero e a sede eram tantos que delirei muito.

Minhas costas estão arranhadas, me arrastava para ver saída, mas não existia.

A fome não era tanta. Sentia mais sede, lábios secos. Eu dizia aos bombeiros que só falaria com eles se me dessem água, era delírio puro.

Dormia ali tinha quatro meses. Minha família ia no fim de semana para pegar o dinheiro e passear.

Eles só ficavam comigo na sexta e no sábado, o resto dos dias eu ficava sozinho.

Eu era muito fiel ao dono do prédio e dormia lá tranquilamente. Nunca senti medo, achava que era um lugar seguro.

No dia, fui com minha mulher numa lanchonete e depois fomos para casa [a obra].

Quando chegamos, estava chovendo e ouvi uma parte de reboco do quarto andar cair. Quando caiu, vi que era massa de concreto.

Minha mulher ficou preocupada, mas achou que era o vento que tinha derrubado algum resto de massa.

Quando deitamos, estávamos no primeiro andar.

Depois de ouvir a voz dos bombeiros, tive certeza que sairia dali, nunca perdi a fé. Eu sabia que eles [equipe de resgate] iam me ouvir.

Entrego tudo nas mãos de Deus e agradeço por ter sobrevivido. Renasci, estou bem. Não estou com minha família completa, meu filho se foi, mas sou grato de coração a vocês [bombeiros].

Fiz uma promessa e vou cumprir, que é seguir Deus. Sou evangélico.

Eu sei que meu filho está num lugar melhor, e eu estou vivo pra me arrepender e seguir o caminho do bem.


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