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Santa 'feia'

Conhecida como 'boneco de Olinda', imagem de Nossa Senhora de Caravaggio não agrada devotos na serra gaúcha; rejeitada, santa será trocada

PAULA SPERB COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Fiéis que visitam o santuário de Nossa Senhora de Caravaggio em Farroupilha, cidade da serra gaúcha, não têm dúvida: a imagem da padroeira, que fica na entrada da cidade, é muito feia, dizem.

Apresentada ao público em 2008, a santa ajuda a atrair turistas --o santuário recebe cerca de 2 milhões por ano. Entre seus devotos famosos está o ex-técnico da seleção Luiz Felipe Scolari.

Mas o fato é que a aparência da figura de sete metros, de espuma e fibra de vidro, não agrada muito --fiéis afirmam que o rosto é desproporcional, para dizer o mínimo.

Por isso, ainda naquele ano, a santa foi submetida a uma "plástica" pelo autor da obra, Roberto Chiaradia, que afinou partes da imagem, como o nariz. "Falam que ela é feia. Cada um tem um gosto", diz o escultor, sugerindo contrariedade com o encargo.

Como o tratamento estético emergencial não agradou muito, a solução foi encomendar uma nova imagem. O santuário promove uma vaquinha na internet para custear a empreitada --fiéis solidários à causa da santa já doaram R$ 25,4 mil dos R$ 100 mil necessários.

SANTA ESCONDIDA

A nova imagem --com seis metros, 20 toneladas de concreto-- substituirá a antiga. E o destino da imagem rejeitada é incerto.

"A santa é deles, eles fazem o que querem. Não tem problema desde que não estraguem a minha", afirma um resignado Chiaradia.

O secretário de Turismo do município, Fabiano Picolli, diz que a santa "feia" irá para dentro da cidade, mais longe dos olhos do público. "O objetivo é colocá-la em local visível, mas que guarde distância. Se passar perto você consegue ver os motivos da substituição", diz.

O culto à Nossa Senhora de Caravaggio começou em 1432 na cidade italiana que leva o nome da santa. A devoção chegou à serra gaúcha com os imigrantes italianos no início da colonização, a partir de 1875.

A romaria realizada todos os anos entre 24 e 26 de maio reúne cerca de 200 mil fiéis. O santuário é o maior em homenagem à santa no país.

BONECA DE OLINDA

"Como devoto me sinto ofendido com a estátua que está ali. Sofro muito", diz o secretário Picolli. Segundo ele, a santa já foi apelidada de "boneca de Olinda" e até de "biscoito Trakinas", aquele do rosto na bolacha.

O padre Gilnei Fronza, reitor do santuário, diz que a mudança segue a vontade da comunidade. "O protótipo já agradou. Ela é uma formosura", comemora.

O trabalho de construção ocorre num pavilhão no santuário, aberto à visitação. E a santa só sairá de lá com "aceitação total" da comunidade, diz o padre Fronza.

O artista incumbido de dar vida à nova santa promete fazer jus à responsabilidade. "As imagens sacras são símbolos que nos aproximam de Deus. Por isso ela tem que ser bonita, ter leveza, delicadeza", diz Gilmar Pocai.

Para ele, a estátua antiga "ficou muito caricaturada" e "não transmite a figura de mãe que as pessoas gostariam de ver". Há, no entanto, quem defenda a imagem antiga. "A devoção vai além [da estátua]. É desnecessário trocar", diz a comerciante Elizabete Ramires, 37.

Quem procura a imagem pelo serviço Street View do Google encontra o rosto da santa antiga desfocado.

O Google diz que se trata de um ajuste automático, feito por um programa que desfoca as imagens ao detectar rostos. Nada a ver, portanto, com a polêmica estético-religiosa da "santa do Felipão."


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