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Ativistas são soltos pela Justiça depois de 45 dias presos
Juiz que rejeitou liberdade diz agora que acusação ficou "fragilizada" após laudo descartar explosivo
Promotores alegam que perícia demorou a ser feita e que materiais inflamáveis podem ter perdido o efeito
Após 45 dias presos, foram soltos na noite desta quinta-feira (7) por ordem da Justiça dois manifestantes acusados de liderar protestos violentos em São Paulo contra a realização da Copa do Mundo.
A libertação do estudante da USP Fábio Hideki Harano, 27, e do professor de inglês Rafael Lusvarghi, 26, foi determinada três dias depois da revelação de que eles não portavam explosivos, contrariando a versão da polícia.
O conteúdo da perícia, que revelou não serem explosivos os artefatos atribuídos a eles, foi revelado pela Folha.
O professor de inglês deixou a carceragem do 8º DP (Brás) no início da noite de ontem. Pouco depois, o estudante foi libertado do presídio de Tremembé, no interior paulista. Ambos saíram sem dar declarações à imprensa.
Segundo decisão do juiz Marcelo Matias Pereira, o resultado da perícia enfraqueceu a acusação.
Pereira é o mesmo magistrado que seis dias antes havia rejeitado um pedido de liberdade feito pelo defensor de Hideki, num despacho repleto de críticas a adeptos da tática "black bloc", a quem chamou de "esquerda caviar".
Nesta quinta, ele mudou de ideia, contrariando parecer de promotores de Justiça, que voltaram a opinar pela manutenção da prisão, mesmo após a constatação da inexistência dos explosivos.
Em sua decisão, o juiz diz que era obrigado a concluir que a acusação ficou "fragilizada" após a comprovação de que "os acusados não portavam qualquer artefato explosivo ou incendiário".
Pouco menos de um mês após serem presos na avenida Paulista, Hideki e Lusvarghi viraram réus em ação penal sob acusação de cometerem crimes como associação criminosa, incitação ao crime e porte de explosivos.
Na denúncia, os promotores dizem que havia provas suficientes de que eles eram "black blocs" --ativistas que defendem a depredação do patrimônio em protestos.
A principal prova material eram os "artefatos explosivos" --uma garrafa de Nescau e um frasco de fixador de tintas para tecidos.
Os laudos mostraram que os objetos continham "cálcio", "oxigênio", "magnésio" e material semelhante a "carbonato". Segundo os peritos, as substâncias foram expostas a chamas e não explodiram nem pegaram fogo.
O advogado de Hideki, Luiz Eduardo Greenhalgh, que apresentou nesta semana o novo pedido de soltura após a divulgação dos laudos, disse que as prisões foram ilegais. "Eles ficaram 45 dias presos com acusações superficiais", afirmou.
PERÍCIA
A polícia e os promotores pretendem enviar novas questões ao IC (Instituto de Criminalística) e ao Gate (grupo antibombas da PM), responsáveis pelos laudos.
Para os promotores, houve demora na apresentação dos materiais para análise. Eles dizem que os materiais inflamáveis encontrados podem ter perdido o efeito.
Sobre a demora, o juiz disse que, se o tempo fez com que o material evaporasse, "é lógico que os peritos não terão como afirmar se os mesmos teriam odor de gasolina ou outro combustível".
Ele diz que é desnecessário um laudo complementar.
Ontem, a Secretaria da Segurança Pública disse apenas que os manifestantes ainda são réus. O Ministério Público não se pronunciou.
Ambos sustentam que há outras provas contra os ativistas, como o testemunho de policiais e, no caso de Hideki, um vídeo em que ele grita frases como "corrente humana aqui atrás, barreira de obstáculo na frente" durante um protesto--na interpretação da polícia, isso demonstraria a liderança dele sobre um grupo de "black blocs".