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Tá em casa

Adolescentes da periferia alugam casarões para fazer festas com centenas de jovens em SP

LEANDRO MACHADO DE SÃO PAULO

A casa grande está toda pichada, quase vazia, cercada por árvores frondosas. No centro de Itaquera, as ruas estão silenciosas numa tarde ensolarada de sábado. Dentro do casarão, sobe o som.

Da esquina ouve-se o funk, vem um rap, outro funk, música eletrônica, e assim será até o fim da noite. A turma chega nos carros (dos pais). Vai começar a festa em casa.

Desde o começo do ano, grandes "House Parties" invadiram a periferia paulistana, principalmente bairros do extremo leste da cidade, como Itaquera, São Miguel e Guaianases. São dois ou três eventos por fim de semana.

Com segurança, bombeiro civil e fotógrafo, as HPs reúnem centenas de jovens e são organizadas por eles mesmos, com ajuda das redes sociais.

Neste mês, a Folha visitou algumas delas, que tiveram cerca de 500 pessoas cada. "É HP porque é sempre em casa. Demoram dois meses para organizar", informa Thauan Costa, 19, dono de uma.

Para organizar os eventos, grupinhos de jovens formaram pequenas "produtoras". Elas concorrem entre si pela festa "mais bombada", a que reúne mais gente e gera mais comentários elogiosos.

Thauan e quatro amigos, por exemplo, organizam a "40 graus", em outra casa de Itaquera. Dizem que reuniram mil pessoas em maio. A próxima está marcada para setembro. Ingresso a R$ 10. Na porta é mais caro, avisa.

"Pagamos R$ 1.500 no aluguel da casa", diz Thauan. Se tiver um MC ou grupo de pagode, o preço sobe.

Felipe Gonçalves, 23, é o fotógrafo oficial das HPs. Seu perfil no Facebook, onde posta fotos das festas, é uma espécie de coluna social. "Todo mundo quer se ver lá", diz. Ele cobra R$ 400 por evento.

PROIBIDO

Decidiu-se a data, paga-se o aluguel do casarão --nos imóveis geralmente não mora ninguém. "Aí criamos o evento no Facebook e divulgamos", diz João Camargo, 17, o Júnior, dono de outra HP.

Quem vende são os promoters. "Eles vão dizer que sua festa é melhor que a concorrente", diz Junior. Promoter precisa ser "famosinho", com muito amigo no Facebook e grupos no Whatsapp para oferecer ingressos --vendidos em estações do metrô e da CPTM.

Com a pulseira colocada, vem a revista. "Dá para tirar essa chave do bolso", pede o segurança. Nas HPs é proibido entrar com drogas ou bebidas. A Folha não viu uso de drogas em nenhuma das festas, mas alguns jovens ficaram bastante embriagados.

No bar, montado na cozinha, a dose de tequila custa R$ 10 e a de Red Label, R$ 15.

É expulso quem brigar ou dar PT (perda total --beber até cair). Mas pode entrar com narguilé, único responsável por espalhar fumaça.

FLUXO

À noite, bebida e música eletrônica inflam o ânimo dos tímidos na pista. "Os meninos vêm pra pegar mulher, e vice-versa. É pra isso que serve uma festa", diz Thauan.

As HPs cresceram na zona leste, região que ganhou nos últimos anos shoppings, prédios e o Itaquerão, palco da abertura da Copa do Mundo.

Porém, opções de diversão para adolescentes ainda são raras. As festas também aumentaram diante da repressão policial aos "fluxos" --bailes funks de rua.

"A matinê mais perto fica no Tatuapé", diz Stefany Grigório, 17, aluna do 3º ano do ensino médio e dona de uma HP que ocorreu sábado retrasado. "Fazemos festa para quem não tem balada", diz.

Para driblar reclamações, a diversão só vai até 23h. A PM às vezes interrompe as matinês. "Uma vez uma policial quase levou minha câmera, dizendo que eu fazia apologia ao funk", diz Felipe.

Às 22h30, os carros dos pais reaparecem, na porta. "Sempre tem um que quer ficar mais, mas eu digo: cara, acabou'", explica Stefany.

Dentro do casarão, desce o som. O silêncio volta ao centro de Itaquera.


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