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O básico da educação / Análise
Educação ainda sonha com onda que nunca chega
Alunos mais novos melhoram, mas ganho se perde nas séries à frente
A ONDA LEVARIA OS ESTUDANTES MAIS BEM PREPARADOS PARA AS SÉRIES SEGUINTES, QUE MELHORARIAM AO MENOS EM INTENSIDADE SEMELHANTE. MAS OS DADOS DO IDEB MOSTRAM QUE ESSA É AINDA APENAS UMA TESE
FÁBIO TAKAHASHI SABINE RIGHETTI DE SÃO PAULODesde a década passada, é comum ouvir ministros e secretários de Educação, dos principais partidos, afirmarem que uma tal onda melhorará a qualidade de ensino.
A tese se sustenta no avanço sistemático dos indicadores nos primeiros anos do ensino fundamental, que vai do 1º ao 5º ano.
A onda levaria esses estudantes mais bem preparados para as séries seguintes, que melhorariam ao menos em intensidade semelhante.
O infográfico publicado na pág. C2, com a evolução do Ideb na rede pública, indica que a tese ainda é apenas uma tese.
A linha que representa os anos iniciais do ensino fundamental continua mais inclinada do que a dos anos finais (ou seja, tem avanço mais visível). E a linha do ensino médio nem melhora mais, desde 2009.
Visto de outra forma, a geração que chegou ao ensino médio em 2013 é mais ou menos a mesma que começou a vida escolar em 2005.
Geração essa que teve bom desempenho em 2009 ao concluir o fundamental, batendo a meta esperada para dois anos depois. Mas agora, em 2013, não atinge o objetivo.
Há dificuldade estrutural à medida que o aluno avança nas séries. Ele começa a vida escolar com apenas uma professora, que o acompanha por todo o ano e ensina tudo o que precisa ser ensinado (quando tudo corre bem).
Não por acaso, era comum o estudante chamar essa professora de "tia", dada a proximidade que se cria entre o educador e o educando.
Mas, a partir do 6º ano, começa a entrar o professor de português, outro de matemática, o de história, o de geografia e assim vai.
A estrutura é bem diferente da classe com a "tia" e as dificuldades no sistema escolar se evidenciam.
Há educadores que defendem mudanças pequenas e grandes para reverter essa perda entre as séries.
A pequena é que sejam adotadas medidas como a presença de tutor para acompanhar o aluno que entra na etapa final do fundamental e que atenue a mudança.
Uma reformulação mais profunda seria a mudança no currículo, especialmente no ensino médio, para que haja menos disciplinas e mais tempo para aprofundamento em alguns conhecimentos.
A tese é quase unânime entre os dirigentes educacionais. O problema é encontrar resultado que contente a todos, de norte a sul.