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Tias profissionais

Mulheres bem-sucedidas e sem filhos não poupam para mimar sobrinhos; fenômeno gerou uma nova sigla em inglês

VANESSA CORREA DE SÃO PAULO

"A palavra titia é a coisa mais doce que venho escutando na minha vida", diz a secretária executiva Cinthia Turqui, 37, sobre o sobrinho de 4 anos, Matteo.

A declaração, seguida de um "não tem preço que pague aquele sorriso", dá uma pista do que se quer dizer com a expressão "tia profissional, sem filhos", que gerou no inglês a sigla Pank ("Professional Aunt, No Kids").

As Panks são mulheres bem-sucedidas, sem crianças (próprias ao menos), que não poupam dinheiro para mimar sobrinhos. Como Cinthia, que gastou quase R$ 500 num carrinho de brinquedo gigante quando Matteo fez dois anos.

Os mimos não se resumem a brinquedos. Matteo já ganhou da supertia ingressos (sempre na companhia dela, é claro!) para assistir o musical Madagascar e para ver ao vivo um jogo do São Paulo.

"A primeira vez dele num estádio de futebol foi comigo! Eu nunca iria assistir uma partida se não fosse por ele".

Foi o mercado de luxo que identificou o fenômeno das tias bem-sucedidas gastando fatia gorda do salário nos pimpolhos dos irmãos.

Na cidade de São Paulo, uma pesquisa da consultoria Shopper Experience com 3.300 mulheres solteiras, sem filhos, de idades entre 30 e 45 anos, das classes A e B, mostrou que a tendência já conhecida nos EUA (onde 50% das mulheres com até 44 anos não têm filhos) chega ao Brasil.

Do grupo, 1.221 compram produtos infantis (roupas, brinquedos e experiências como espetáculos) de R$ 340 ou mais com frequência. E, neste grupo, 75% o fazem ao menos uma vez ao mês, 16%, semanalmente, e 9%, duas vezes por semana. A pesquisa foi feita em abril.

O fenômeno tem a ver com o novo estilo de vida feminino, em que as mulheres, especialmente as mais escolarizadas, adiam a primeira gravidez ou até desistem da ideia de ter filhos para investir mais tempo na carreira.

No Brasil, a proporção de mulheres com 40 a 44 anos sem filhos pulou de 10,7% para 14,7% entre 2001 e 2011, segundo o IBGE. Se somarmos as mulheres com esse perfil entre os 30 e 44 anos de idade, chegamos a 4,2 milhões de tias no país.

BANCADO PELA TIA

T., 47, que pediu sigilo sobre sua identidade para evitar ciúmes entre os sobrinhos --"sério, senão você vai me complicar a vida"-- leva o papel de supertia ao extremo.

Com 24 sobrinhos para mimar, desde bebês até um marmanjo de 34 anos, T. carrega uma lista em suas viagens de trabalho dos presentes que precisa comprar. Ela é executiva de uma multinacional e está sempre viajando.

O mais recente presentinho foi um iPhone último modelo para a sobrinha de 8 anos. Mas T. já pagou desde festa de casamento a viagem para o Canadá. Também não poupa quando o negócio é a formação de seus queridos, pagando cursos de inglês e viagens a conferências.

E tem Pank que começa cedo, como Bárbara Pereira, 27, profissional de recursos humanos, também de uma multinacional, que tem dois sobrinhos: Nikolas, 4, e Thomas, 1.

Com seu salário "na faixa de R$ 5 mil" já ajudou a bancar festinha de aniversário, vive comprando presentinhos e levando o mais velho para almoçar com ela e o marido.

Como não pretende ter filhos tão cedo --para se dedicar à carreira, claro-- já se planeja para contribuir na educação dos sobrinhos.

"Para a minha irmã e meu cunhado, ainda é superapertado, então quero ajudar a pagar uma boa escola", diz.

"Faria tudo por meus sobrinhos, o mesmo que faria para meus próprios filhos", finaliza Bárbara, como se proclamasse o bordão das Panks.


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