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Foco

Após 65 anos juntos, casal morre com 40 minutos de diferença no RS

Doentes, os dois se deram as mãos no último dia de vida em hospital de Porto Alegre

ESTÊVÃO BERTONI DE SÃO PAULO

Oficialmente, passaram 65 anos juntos, mas Italvino Possa reivindicava pelo menos um ano a mais, do período de namoro. O fim chegou para os dois no mesmo dia, sexta (3), em camas vizinhas de um hospital de Porto Alegre.

Em 1948, num baile em Marau, a 260 km da capital gaúcha, ele conheceu Diva Alves de Oliveira. Dali em diante, nunca mais se desgrudaram.

O casamento foi pouco depois, em 14 de maio de 1949. No início, viveram numa propriedade rural no Rio Grande do Sul, onde plantavam soja. A família dele tinha muitos empregados e arrendava terras. Depois, moraram no Paraná e em Passo Fundo (RS).

Italvino, filho de imigrantes italianos, deixou de ser colono para se tornar motorista de caminhão. Por 30 anos, como lembra a filha Fátima Possa Nunes, 58, ele exerceu a profissão na Companhia Estadual de Energia Elétrica.

Quando se aposentou, já morava em Porto Alegre. Diva sempre foi dona de casa.

Dos dez filhos que tiveram, três morreram cedo. Um dos bebês viveu apenas um dia. Outro filho morreu aos 25 anos e uma filha, aos 15.

Os dois eram parecidos, segundo a filha. Ambos gostavam de contar piadas, mas Diva era mais reservada.

Italvino, que chamava a mulher de "mãe" (ela se referia a ele pelo nome de batismo), costumava preparar chimarrão todas as manhãs e levar para Diva ainda na cama.

Em casa, caminhavam juntos pelo jardim para cuidar das plantas. Cada um tinha um poodle, e ele era apegado a Chiquinho, sua calopsita.

Gostavam também de cantar os hinos da igreja adventista que frequentavam.

Brigas existiam. "Como todo casal", diz a filha Fátima. "Eles eram normais. Não tiveram uma vida só de alegrias."

Em agosto do ano passado, ao visitar o médico devido a um sangramento no nariz, Italvino descobriu uma leucemia. Ficou três meses internado. Ao sair, ganharia uma nova rotina: a de entrar e sair de hospitais.

Todas as semanas, fazia transfusões de sangue. Nessa época, Diva "perdeu o chão", como conta a filha. "Era ele quem fazia as compras e pagava as contas."

Em janeiro deste ano, foi a vez dela se queixar de dores. Em março, descobriu um tumor na bexiga. O médico desaconselhou a cirurgia, e a saída foi fazer quimioterapia.

"Ela começou bem o tratamento, mas 15 dias depois voltou para o hospital e não saiu mais", lembra Fátima.

Diva estava internada desde maio no Hospital São Lucas, em Porto Alegre.

MÃOS UNIDAS

Na sexta-feira (3), Italvino deu entrada no mesmo local, com hemorragia. Como havia passado a noite chamando pela mulher, foi colocado no mesmo quarto de Diva.

Dissera à filha que a mulher fora até ele e o avisara que tinha morrido.

No quarto, Fátima encostou uma cama na outra e juntou as mãos do casal.

Italvino morreu às 15h, aos 89 anos. Diva, que conseguira ver todos os filhos antes de entrar em coma, na própria sexta, morreu 40 minutos depois. Estava com 80 anos.

O casal foi enterrado junto em Alvorada, cidade próxima a Porto Alegre. Tiveram 14 netos e seis bisnetos.


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