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Crise da água
Cantareira só volta ao normal em 4 anos, dizem especialistas
Simulações mostram que recuperação do sistema depende de chuva dentro da média histórica na região dos reservatórios
Principais obras para aumentar produção de água devem ficar prontas a partir de 2016, segundo a Sabesp
A crise da água em São Paulo deve continuar no próximo mandato do governador reeleito Geraldo Alckmin (PSDB), caso se confirmem cenários projetados por pesquisadores da área.
Simulações mostram que o Cantareira vai demorar de quatro a cinco anos para se recuperar caso chova dentro da média histórica na região das represas do sistema, cujo nível era de 4,8% de sua capacidade neste domingo (12).
"A possibilidade de um desabastecimento, até no ano que vem, com graves consequências sociais, econômicas e ambientais, existe", afirma o pesquisador Antônio Zuffo, da Unicamp.
Já as principais obras para aumentar a produção de água só devem ficar prontas a partir de 2016, segundo cronograma da Sabesp.
É o caso da ampliação do sistema Rio Grande e da polêmica interligação entre as represas Atibainha e Jaguari (entre o sistema Cantareira e a bacia do rio Paraíba de Sul, disputada com o Rio).
A parceria público-privada do sistema São Lourenço, que deve abastecer as áreas críticas na zona oeste da Grande São Paulo, está prevista para terminar em 2018.
No planejamento inicial da Sabesp, a obra estava prevista para 2016. O governo corre para entregá-la no segundo semestre de 2017.
Nesta semana, o secretário Mauro Arce (Recursos Hídricos) disse que a crise vai fazer com que o governo "adiante" obras e faça projetos que não estavam planejados.
Uma das possibilidades é aumentar a interligação entre os sistemas de abastecimento com "tubulação mais pesada", provocando obras que poderão afetar as grandes avenidas da capital paulista nos próximos anos.
OUTRAS MEDIDAS
A sobretaxa para quem gastar muita água, anunciada no primeiro semestre pelo governador, está descartada, segundo Arce.
Outra ação que poderia ajudar a aliviar o problema é a redução de perdas no sistema --um processo lento, segundo a própria presidente da Sabesp, Dilma Pena. Hoje, a chamada perda física (que envolve vazamentos) é de 19,8%.
Zuffo, porém, defende que o combate às perdas de água amenizaria a escassez de maneira mais significativa do que as obras de interligação de sistemas. "O volume que se perde na gestão da água na Grande São Paulo é maior do que está sendo retirado do Cantareira hoje", afirma.
Para ele, mesmo que a Sabesp conseguisse cortar somente a metade suas perdas na Grande São Paulo, isso já seria o dobro do que se retira hoje do Paraíba do Sul.
O replantio e a conservação da vegetação perto de mananciais ajudaria a regular o abastecimento das represas, afirma Walter de Paula Lima, professor aposentado da Esalq, escola de agricultura da USP.
"A floresta não vai aumentar o nível das represas, mas evita que a água escoe rapidamente para lugares em que não serão armazenadas", diz.