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Banheiros ficaram lotados de corpos; polícia apura demora para liberar saída

Entre 600 e 1.000 pessoas estavam em boate de Santa Maria (RS) quando, segundo a polícia, sinalizador causou o incêndio

Toque incessante de celulares nos bolsos das vítimas levadas ao ginásio causou comoção nas pessoas

FELIPE BÄCHTOLD MARCELO SOARES REYNALDO TUROLLO JR. ENVIADOS ESPECIAIS A SANTA MARIA MELINA GUTERRES COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, EM SANTA MARIA

Ao menos 231 pessoas morreram e outras 106 ficaram feridas num incêndio na madrugada de ontem em uma casa noturna em Santa Maria, município na região central do Rio Grande do Sul e a 323 km de Porto Alegre.

Dos 106 feridos, entre queimados e intoxicados, 92 estavam internados em Santa Maria até o final da tarde de ontem, 14 haviam sido transferidos para a capital do Estado.

O incêndio, de acordo com sobreviventes, começou por volta das 2h30. Segundo a polícia, o vocalista da banda Gurizada Fandangueira ergueu uma espécie de sinalizador em cima do palco.

As faíscas, segundo relatos de sobreviventes à polícia, atingiram o teto da boate e se espalharam rapidamente, já que toda a estrutura da casa noturna é revestida por espuma, forro de isolamento acústico altamente inflamável.

O guitarrista da banda, Rodrigo Lemos Martins, disse à Folha que o fogo começou depois que o sinaleiro (chamado por ele de "sputinik") ter sido aceso.

Um segurança da casa e o vocalista da banda tentaram apagar o incêndio, diz o guitarrista, porém o extintor não funcionou."Os guris tentaram apagar, mas o extintor não funcionou, não saiu nada", disse (leia mais na pág. C6).

A boate Kiss, com capacidade para até 1.000 pessoas, recebia na madrugada de ontem entre 600 e 1.000 pessoas, de acordo com a polícia.

O local era ponto de encontro de estudantes universitários. O município abriga alunos de faculdades particulares e da Universidade Federal de Santa Maria, muitos de outros Estados.

Em nota, a universidade informou ontem que ao menos 101 mortos eram seus alunos.

Segundo testemunhas, com o incêndio, houve correria e tumulto no local.

Outras disseram ter corrido para a porta de saída da boate, mas foram inicialmente barradas por seguranças. Só quando notaram o incêndio, instantes depois, eles liberaram a saída. A informação será investigada pela polícia.

O segurança Rodrigo Moura, que estava próximo ao palco, disse que seus colegas só bloquearam a saída por "alguns segundos", por achar que se tratava de uma briga.

REFÚGIO

Segundo a legista do IML, Maria Zuchetto, a maioria das vítimas morreu por asfixia (sem conseguir respirar) ou por intoxicação com a fumaça. Os banheiros da boate estavam lotados de vítimas, que buscavam se refugiar do incêndio.

À marretadas, os bombeiros tiveram que abrir um buraco na parede da boate para facilitar a retirada das pessoas. O fogo somente foi controlado no início da manhã.

Para atingir os fundos da boate em busca de sobreviventes, os bombeiros tiveram de transpor corpos amontoados.

Os corpos foram levados de caminhão para um complexo esportivo, onde foi improvisado um IML (Instituto Médico Legal) e os familiares fizeram o reconhecimento das vítimas.

Alguns desmaiaram e foram amparados por uma equipe de psicólogos e assistentes sociais de plantão.

Ao longo do dia, marcado pela comoção e por um forte calor de cerca de 35ºC, pessoas desmaiavam nas ruas.

Policiais e bombeiros relataram que durante a chegada dos primeiros corpos a esse IML o toque incessante de celulares nos bolsos das vítimas, provavelmente de familiares desesperados em busca de notícias, causou comoção entre as pessoas.

Um velório coletivo foi organizado num ginásio ao lado, no mesmo complexo.

Até a conclusão desta edição, a polícia afirmava que eram 233 mortos. A legista do IML, Maria Zuchetto, porém, explica que nessa lista havia dois nomes repetidos, o que foi corrigido durante o dia.


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