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Análise
Uso de cartão pode indicar falta de controle sobre filhos
ANDRÉ BARCINSKI CRÍTICO DA FOLHAEntão pais estão usando cartões eletrônicos para controlar os refrigerantes e salgadinhos consumidos pelos filhos? E alguém acha que isso é solução? Os cartões podem até funcionar no horário de aula, mas e fora da escola? Será que a adoção de um cartão não esconde algumas questões que precisam ser discutidas?
A mais óbvia é que pais parecem ter perdido o controle sobre os filhos a ponto de o assunto não poder ser resolvido com conversa e informação. De que adianta coibir refrigerantes, salgadinhos e frituras só durante a escola?
Outras questões importantes: os alunos aprendem educação alimentar na escola? E em casa? A educação física é levada a sério como deveria? As cantinas das escolas estão oferecendo opções saudáveis de alimentos?
Crianças gostam de comida que faz mal. Sempre foi assim e sempre será. Quem não gosta de refrigerantes, salgadinhos, fast food e açúcar em excesso? Não conheço ninguém que vai ao cinema com o filho saboreando suco de melão e iogurte com granola.
'PEQUENO PECADO'
O problema é que alimentos ruins não são mais a exceção, o "pequeno pecado" que pais permitem aos filhos em ocasiões especiais. Viraram a regra. Exceção, hoje, é uma criança comer alimentos saudáveis.
Há poucos meses, foi lançado o filme "Muito Além do Peso", sobre obesidade infantil no Brasil (quem perdeu pode baixar ou assistir gratuitamente no site www.muitoalemdopeso.com.br).
Dados mostrados são alarmantes: um terço das crianças brasileiras está acima do peso ideal. Cerca de 56% das crianças com até um ano de idade consomem refrigerantes. O filme mostra crianças já sofrendo com falta de ar e colesterol alto e incapazes de identificar uma fruta.
O assunto é de saúde pública e precisa ser tratado com o rigor que merece. E ninguém precisa ser um ativista contra o fast food para achar inaceitável uma imagem que aparece em "Muito Além do Peso": o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, reunindo-se com o CEO do McDonald's da América Latina, empresa definida pelo ministério como "Parceira da Saúde".