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Pasquale Cipro Neto

O infinitivo, velho de guerra

Em 'Prestes a escolher papa...', o leitor logo imagina que o sujeito de 'escolher' seja do singular

ATIRE A primeira pedra quem nunca se enrolou com o bendito infinitivo. "Eles se esforçaram muito para conseguir" ou "para conseguirem"? "Lutamos muito para conquistar o título" ou "para conquistarmos o título"?

É sabido que em muitos casos não há normas ortodoxas em relação à opção entre a flexão e a não flexão do infinitivo. Em muitos casos, a decisão se dá pelo estilo, pela carga de ênfase que se quer dar ao agente ou ao processo expresso pelo verbo.

É nesse caso que se encaixam os exemplos do primeiro parágrafo. A opção por "conseguir" ou "conquistar", por exemplo, põe em relevo o processo expresso pelos verbos. Para deixar claro: em "Eles se esforçaram muito para conseguir" e em "Lutamos muito para conquistar...", a opção pela não flexão ("conseguir" e "conquistar") põe em destaque o processo que esses verbos expressam. Enfatiza-se a ação, e não o seu executor.

A opção por "conseguirem" ou "conquistarem" põe em relevo os agentes do processo expresso pelos verbos. Para deixar claro: em "Eles se esforçaram muito para conseguirem" e em "Lutamos muito para conquistarmos o título", a opção pela forma flexionada ("conseguirem" e "conquistarmos") põe em destaque os agentes dos processos ("Eles" e "nós").

Convém dizer com todas as letras que essa dupla possibilidade só se dá porque o sujeito do infinitivo e o do verbo anterior são um só. Para deixar claro: em "Eles se esforçaram muito para conseguir", o sujeito de "conseguir" é o mesmo de "esforçaram" ("eles"); em "Lutamos muito para conquistar o título", o sujeito de "conquistar" é o mesmo de "lutamos" ("nós").

Quando o sujeito do infinitivo é diferente, nada de duas opções. Veja: "Ela se esforçou muito para os alunos entenderem o tema". Nesse caso, não existe a possibilidade de não flexionar "entender", já que o seu sujeito ("os alunos") é diferente do sujeito do verbo anterior ("ela").

Pensei em tratar do infinitivo por causa deste título, publicado num site, anteontem: "Prestes a escolher papa, cardeais querem relatório secreto". O que temos de "novo" nesse caso? A ordem das orações, dos verbos. O período começa pela oração infinitiva, caso em que normalmente o infinitivo é flexionado de acordo com o seu sujeito, ainda que ele seja igual ao do outro verbo do período.

Essa forma predomina na língua culta por uma simples questão de clareza. Em "Prestes a escolher papa...", o leitor imediatamente imagina que o sujeito de "escolher" seja do singular (o conclave, por exemplo), o que não se confirma na leitura do passo seguinte. Agora veja: "Prestes a escolherem papa, cardeais querem relatório secreto". A leitura flui de outro modo, não?

Por falar em infinitivo, papa e cardeais, veja este outro título, também publicado num site (ontem): "Faltam dois cardeais chegarem...". "Faltam dois cardeais chegarem"? Isso me lembra um ex-jogador de futebol, que não "perdoava" nenhum infinitivo: "Temos de lutarmos muito para podermos nos classificarmos...".

No caso em tela, convém lembrar que o que falta é a chegada de dois cardeais, ou seja, não são eles (cardeais) que faltam; o que falta é a chegada deles. Moral da história: no padrão formal da língua, a construção que ocorre é "Falta chegarem dois cardeais..." (ou "Falta dois cardeais chegarem"). Uma terceira opção ("Faltam chegar dois cardeais") ocorreria aqui e ali, por influência do que normalmente se faz em casos que na verdade não são análogos, como "Devem/Podem chegar dois cardeais". Embora se compreenda a razão pela qual se chega a "Faltam chegar dois cardeais", não é essa a forma que predomina no padrão escrito formal culto. É isso.


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