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Vidas cruzadas

Atropelamento na Paulista uniu os destinos de dois jovens que têm a mesma idade, mas trajetórias de vida diferentes

ROGÉRIO PAGNAN ANDRÉ MONTEIRO DE SÃO PAULO

Foi no coração da cidade, no encontro entre noite e dia, que as vidas de Alex Siwek e David Santos Sousa se cruzaram. Um seguia para dormir. O outro, para trabalhar.

O incidente, que ocorreu na manhã de domingo e não deixou indiferente nenhum morador de São Paulo, envolveu dois jovens paulistanos da mesma idade, 21, mas com trajetórias de vida diferentes.

Alex é filho de um empresário uruguaio com uma brasileira. Mora em um confortável apartamento no Jardim da Saúde, na zona sul da capital, região de alto padrão.

Atualmente não trabalha. Seus estudos são financiados pela família -ele cursa o segundo semestre de psicologia na faculdade Anhembi Morumbi, na Mooca.

Também estudou marketing, mas desistiu da carreira.

Alex, ao lado dos amigos, é frequentador assíduo da noite paulistana. É apaixonado por música eletrônica e faz suas próprias mixagens.

Poucas horas antes do episódio que mudaria sua vida, gastou R$ 96 com três doses de vodca e um enérgico num clube do Itaim Bibi -ele recebe mesada dos pais.

Já David usa a bicicleta para trabalhar para poupar o dinheiro do ônibus, pago pela empresa, o que gera uma economia de R$ 150 por mês.

Entre sua casa e o Hospital das Clínicas, onde limpava vidros fazendo rapel, são quase de 50 km, ida e volta.

Ele também mora na zona sul, mas no bairro Novo Pantanal, numa região pobre na divisa com Diadema.

Filho de um pintor e uma empregada doméstica cearenses, ele ainda não conseguiu concluir o ensino médio.

MCDONALD'S

Segundo a família, David, caçula de cinco filhos, teve dificuldades para frequentar a escola porque começou a trabalhar aos 15 anos.

Já teve vários empregos, entre eles os de atendente do McDonald's e ajudante do Pão de Açúcar.

Seu sonho, segundo a mãe, Antonia Ferreira dos Santos, era se formar técnico de segurança e trabalhar na Petrobras. A ideia surgiu após uma viagem a Macaé, no norte do Rio, onde ficou sabendo que havia muita demanda pela carreira na estatal.

"Ele não desistiu do sonho. Vai terminar o ensino médio e no meio do ano quer começar o curso", disse ela.

Alex é filho único. Numa das poucas vezes em que foi a uma delegacia, segundo seu advogado, esteve lá como vítima de sequestro relâmpago.

Até a noite de ontem, ele permanecia no CDP (Centro de Detenção Provisória) do Belém, na zona leste. Hoje de manhã, completará três dias em uma cela isolada.

De acordo com sua defesa, ele pode ser solto pela Justiça ainda hoje, por não ter antecedentes criminais.

BALADAS

A boate Josephine, onde Alex esteve na noite fatídica, é frequentada pela alta sociedade paulistana. A entrada no lugar chega a custar R$ 300 por pessoa.

David, segundo a família, é torcedor fanático do São Paulo, mas não frequenta os jogos do time por causa do preço dos ingressos.

O destino dos dois se cruzou na Paulista pouco antes das 6h de domingo, quase em frente ao edifício Patrimônio, entre a Brigadeiro e a rua Maria Figueiredo.

Alex pegou a avenida para deixar um amigo em casa.

Segundo a polícia e a Promotoria, sob o "efeito do álcool", ele dirigia de "forma tresloucada" e fazia zigue-zague entre os cones recém-colocados para demarcar o espaço da ciclofaixa de lazer.

David pedalava na pista contrária, sentido Consolação, mas decidiu trocar de lado para ficar protegido na faixa reservada aos ciclistas, mesmo na contramão.

Disse à polícia que viu o carro se aproximar em alta velocidade e derrubar três cones e que tentou, em vão, se atirar no canteiro central.

Com o impacto, teve o braço direito arrancado. O membro acabou lançado para dentro do carro de Alex, que fugiu do local do acidente sem prestar socorro e depois atirou o braço em um córrego.

O estudante, segundo seu advogado, pergunta por David na prisão e diz querer conhecê-lo para pedir perdão.

A mãe de David diz que aceitaria um encontro. "Mas quem tem que perdoar ele é Deus, não a gente."


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