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Obra de presídio de Pernambuco emperra após falência de consórcio
Iniciada em 2009, construção já consumiu R$ 350 milhões e hoje está praticamente paralisada
Ao lançar unidade, em formato de PPP, governo Eduardo Campos disse que obra era marco para o sistema prisional
Iniciada em 2009 sob o anúncio de "maior e mais completa PPP prisional do Brasil", feito pelo governo Eduardo Campos (PSB), a obra do Centro Integrado de Ressocialização de Itaquitinga (PE) está parada e ainda não recebeu um preso sequer.
A unidade, na zona da mata do Estado e com capacidade anunciada para 3.126 presos, começou a ser erguida em outubro de 2009, com promessa de entrega para 2011. Desde setembro, não há operários no canteiro de obras. A empresa líder do consórcio construtor do presídio faliu.
Orçada inicialmente em R$ 287 milhões, a unidade já custou ao menos R$ 350 milhões.
O lançamento desse projeto, numa PPP (parceira-público privada), foi motivo de festa de Eduardo Campos, potencial candidato a presidente em 2014, e anunciado como um marco para o Estado, já que permitiria a desativação de duas das três unidades prisionais que afastam turistas da ilha de Itamaracá, litoral norte pernambucano.
Em Pernambuco, diz o governo estadual, há 27.630 presos para 9.346 vagas, deficit só superado por quatro Estados (AL, MA, AM e PR), indica o Ministério da Justiça.
Hoje, na obra de Itaquitinga, o cenário é de abandono, só com seguranças no local.
Com a falência da líder do consórcio, outra empreiteira assumirá a construção e a administração da penitenciária para os próximos 33 anos.
Operários ouvidos pela Folha na semana passada disseram que faltam detalhes de acabamento, além de serviços hidráulicos e elétricos.
Fora da unidade, é possível ver manilhas empilhadas, um cano largo e um andaime.
Além disso, apenas o acesso que liga o presídio à BR-101 Norte, em Igarassu, na Grande Recife, foi asfaltado. Os 20 km da sede de Itaquitinga até o presídio, no meio de canaviais, são de terra.
A paralisação do serviço mexeu com a vida da população local. O armador de ferragem Josinaldo Domingues, 27, começou a trabalhar na construção do presídio em 2009, no início das obras. Saiu em 2010, mas dois anos depois já estava de volta. Ficou até abril, quando diz ter percebido que a construtora passava por dificuldades.
"Começou a ter dificuldade de terminar a obra. Chegou a faltar material", diz Domingues, que afirma não ter recebido ainda o dinheiro da rescisão e do FGTS.
Já o pedreiro David Gleidson da Silva, 27, diz ter se oferecido para ser demitido. "Fiquei com medo de perder tudo. Muita gente pediu para ser demitida", diz.
ATRASOS E DÍVIDAS
Quem não foi demitido não consegue emprego em outras obras por causa do vínculo com a obra parada. Eles continuam recebendo salário, mas relatam atrasos.
"De vez em quando [a empresa], bota um dinheirinho no banco, mas atrasa dois, três meses. Venceu fevereiro e ainda não pagaram", afirma José Teófilo Reis, 33.
A paralisação prejudicou também os fornecedores. Celso Araújo, 47, diz que entregava 1.800 refeições diárias. Afirma ter investido entre R$ 80 mil e R$ 90 mil para montar uma cozinha no canteiro de obras e hoje fornece só 27 refeições diárias para vigilantes e funcionários do canil.
Segundo o empresário, o consórcio deve a ele R$ 240 mil. "Dizem que vão pagar, para ter paciência", afirma.