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Mirian Goldenberg

Cúmplices da violência

As mulheres são acusadas de serem responsáveis pela violência física, psicológica e simbólica que sofrem

É impossível não comentar a celeuma provocada pela pesquisa do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada).

O instituto afirmou, entre outros resultados, que 87,8% dos pesquisados concordam (total ou parcialmente) que "toda mulher sonha em se casar"; que "os homens devem ser a cabeça do lar" (63,8%); que "uma mulher só se sente realizada quando tem filhos" (59,5%); que "se as mulheres soubessem como se comportar, haveria menos estupros" (58,5%); que "tem mulher que é para casar, tem mulher que é para cama" (54,9%) e que "a mulher casada deve satisfazer o marido na cama, mesmo quando não tem vontade" (27,2%).

As mulheres foram a maioria dos 3.810 pesquisados (66,5% da amostra). O mais chocante foi constatar que grande parte das pesquisadas concordava com frases estereotipadas, preconceituosas e violentas contra as mulheres.

Apesar das críticas à amostra, à metodologia e à forma como as perguntas foram feitas --e do fato de o Ipea ter errado e afirmado que 65,1% dos pesquisados concordam que "mulheres que usam roupas que mostram o corpo merecem ser atacadas" (e não 26%, como corrigiu posteriormente)--, o acalorado debate foi importante para refletir sobre a cultura da violência existente no Brasil.

Tomara que os graves problemas da pesquisa não enfraqueçam a necessária discussão sobre a violência contra a mulher brasileira.

A realidade cotidiana de inúmeras brasileiras pode ser ainda mais preconceituosa, cruel e violenta do que aquela que foi mostrada pela pesquisa do Ipea.

É inegável que muitas mulheres ainda aceitam que um homem (ou outra mulher) controle seu corpo, comportamento, sexualidade e roupa. Aquelas que não se comportam ou não se vestem "adequadamente" são estigmatizadas socialmente, apesar de ninguém saber qual é o tamanho "adequado" da saia, do decote ou do biquíni que uma mulher brasileira deve usar para ser respeitada.

Elas são frequentemente acusadas de serem responsáveis pela violência física, psicológica e simbólica que sofrem.

Será que, após tantas polêmicas, as mulheres que endossam essas ideias preconceituosas perceberam que estão reproduzindo posturas de submissão feminina e sendo cúmplices da violência que elas também sofrem?

www.miriangoldenberg.com.br


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