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Suzana Herculano-Houzel

Na expectativa

O melhor da ansiedade é a chance de se preparar, de conhecer o inimigo e estudar como vencê-lo

O neurocientista Robert Sapolsky, especialista em estresse, gosta de dizer que zebras não sofrem de úlceras.

Segundo ele, a razão é que zebras vivem no presente: ou pastando tranquilamente ou em um baita surto de adrenalina, correndo do leão, mas sempre alegremente ignorantes do que lhes espera e, portanto, livres do estresse crônico da incerteza --e de úlceras.

Antecipar o futuro e preocupar-se desde já com o que pode vir a ser é, segundo Sapolsky, prerrogativa humana. Acho pouco provável que seja, mas isso é outra história. A da vez é a expectativa em si; o bem (e o mal) que ela pode trazer e como tudo isso depende apenas da cabeça de cada um.

Um jogo de futebol, por exemplo, poderia ser encarado como apenas o jogo que é: um evento esportivo, cercado de regras arbitrárias, onde dois punhados de jogadores têm duas sessões de 45 minutos para disputar quem tem maior controle sobre uma bola. No entanto, a partir do momento em que há dinheiro, honras nacionais e rivalidades em questão, a expectativa do jogo assume proporções suficientes para abalar jogadores e causar infartos até em quem não está em campo.

Esse é o poder da expectativa: a ansiedade causada pela projeção do confronto para um futuro próximo coloca o cérebro em guarda, tenso, antes mesmo de o conflito passar a existir. Mas só se o evento antecipado for, de fato, considerado um conflito. Convença-se de que Brasil x Alemanha é apenas mais um jogo, e o sofrimento será menor. Isso é o que nós, torcedores sem nenhum poder sobre o resultado do jogo, podemos fazer.

Para quem está diretamente envolvido, no entanto, menosprezar o conflito, ou o adversário, é desperdiçar a oportunidade de aproveitar o melhor da ansiedade, que é a chance de se preparar, de se informar, de conhecer o inimigo e estudar como melhor vencê-lo.

Sem isso, a ansiedade é apenas sofrimento antecipado, deixando o cérebro à mercê da sua percepção do problema. Se for contida, o órgão responde preparando o corpo para agir, com mais vigor muscular e capacidade de atenção.

Mas se a percepção do estresse for grande demais, a atenção voa, os músculos tremem, o desempenho sofre, a preocupação toma conta no gramado. A saída é transformar a ansiedade em aliada, com informação e preparação prévias, para manter a sensação de controle mesmo no pior do jogo. E se for assim... Que vença o melhor!

suzanahh@gmail.com


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