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Terapia Shirodhara

Na Índia e aqui

Tratamento ayurvédico que promete acalmar a mente com banho de óleo na cabeça é testado em um spa paulistano e numa clínica tradicional no oeste indiano

JULIANA CUNHA COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Um fio de óleo quente escorre pela testa e os cabelos e cai num buraco na maca. O paciente fica imóvel por meia hora, enquanto o terapeuta controla o fluxo do líquido e a posição de sua cabeça.

Para cada mal e tipo de pessoa há um líquido próprio, sempre misturado com ervas medicinais. O óleo de gergelim é muito usado, mas há muitos outros, além de leite e até água de coco.

A primeira sensação é de descrença. Sério mesmo que alguém paga para que despejem óleo sobre sua testa?

Lá para a metade do procedimento vem um relaxamento profundo, bem-estar que permanece por pelo menos um dia inteiro.

Shirodhara é uma terapia da medicina ayurvédica desenvolvida pelos vaidyas, os médicos indianos. O nome vem de "shira" (cabeça, em sânscrito) e "dhara" (fluxo).

O óleo morno sobre a glabela, aquele ponto entre as sobrancelhas, "estimula o sistema nervoso para que o cérebro funcione de forma mais branda", explica Erick Schulz, terapeuta corporal e vice-presidente da Associação Brasileira de Ayurveda.

Na Índia, é um tratamento médico usado para diferentes problemas associados à região do corpo que vai da clavícula ao ponto mais alto da cabeça (a medicina hindu divide o corpo em oito partes) e também para relaxamento.

Fadiga mental, distúrbios do sistema nervoso, insônia e enxaquecas são algumas indicações para shirodhara -que também hidrata os cabelos. É um dos poucos procedimentos gratuitos em hospitais públicos daquele país.

Já no Brasil, na maioria dos casos é oferecido em spas para aliviar o estresse.

EFEITOS

Schulz, que é formado em ayurveda na Índia e dirige em São Paulo o Instituto de Cultura Hindu Naradeva Shala, acha "loucura" a pessoa se submeter a um tratamento desse tipo sem ter passado por um diagnóstico: "Se não for aplicada corretamente, a terapia pode provocar diversos efeitos colaterais, como vômitos, tonturas etc."

A reportagem experimentou o método em um spa em São Paulo e em uma clínica particular em Ahmedabad, na Índia -e também acompanhou uma sessão em um hospital público indiano.

Em São Paulo, a técnica foi aplicada pela terapeuta Bia Farah, no Espaço Marcia de Luca, no Itaim Bibi, onde a sessão custa R$ 89.

De longe, foi a experiência mais condizente com o conceito ocidental de relaxamento: sala limpa, lençóis brancos, música indiana e um chuveiro disponível depois.

"O objetivo é equilibrar os dois hemisférios do cérebro e ajudar na expansão da mente", explicou Farah.

Ela própria não costuma se submeter à shirodhara: "Fico preocupada com o cabelo". Quando o procedimento termina, o óleo escorre em baldes, os fios estão melados.

As indianas gostam. "Hidrata o cabelo e deixa a pele sedosa por semanas", diz a socióloga indiana Bharti Vaja, 30, que faz sete sessões ao ano contra queda capilar.

Já as brasileiras resistem: "Mesmo sabendo que o óleo vai sair após a lavagem, as mulheres aqui preferem outras técnicas quando o objetivo é só relaxar", diz Farah.

Na clínica Avdhoot, em Ahmedabad, shirodhara é uma das terapias favoritas do público feminino -talvez por conta do pouco contato físico entre médico e paciente. "Eu explico para elas que só vou tocar nas têmporas, o que as deixa muito satisfeitas", diz Subhash Trivedi, médico especialista na técnica.

Em seu consultório, o clima não é nada "zen". A luz é branca e dura, a maca é forrada com jornais. Não há música nem banheiro.

Depois do procedimento, a paciente recebe folhas de jornal para retirar o excesso de óleo do cabelo e um pó de ervas para limpar o rosto.

Durante a sessão, o celular do médico toca a cada dez minutos. Mesmo assim, o efeito relaxante é o mesmo obtido no spa paulistano.

Cada sessão custa mil rúpias, cerca de R$ 36. Como tudo na Índia, é possível pechinchar e receber o tratamento por 800 rúpias.

Quem não pode pagar recorre a hospitais públicos, onde a shirodhara é aplicada em grandes salas coletivas, cheias de macas e sem hora marcada. O paciente leva seu próprio óleo de acordo com as especificações do médico. O ambiente é caótico e a higiene, precária. Mas, por alguma razão, todos saem de lá levitando e agradecendo aos médicos.


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