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MICHAEL KEPP mkepp@terra.com.br

Corrida contra o tempo

Pessoas com doenças que podem encurtar a vida têm energia para experimentar de tudo antes que seja tarde

Quanto mais envelhecemos, mais lentos vamos ficando, às vezes por falta de motivação. Aos 63 anos, reduzi meu ritmo porque já atravessei a maioria de minhas linhas de chegada.

Mas algumas pessoas com doenças ou limitações físicas que ameaçam encurtar suas vidas insistem em provar de tudo antes de seu tempo acabar. Têm pressa.

Veja o caso de Michel Petrucciani, pianista de jazz que nasceu com osteogênese imperfeita, doença que atrofiou seu crescimento (parou em 0,9 metro) e deixou seus ossos tão frágeis que quebravam constantemente, especialmente quando ele tocava com vigor.

Num documentário epônimo de 2011 sobre a vida turbinada desse pequeno virtuose, ele diz: "Odeio perder tempo". Petrucciani estava ciente de que a doença encurtaria sua vida. Por isso mesmo, chegou a fazer 150 apresentações por ano e devorou comida, vinho, drogas e mulheres até morrer de pneumonia, aos 36.

O filme "O Escafandro e a Borboleta", de 2007, reproduz a luta literária de outro francês, Jean-Dominique Bauby, editor-chefe da revista "Elle", que ficou tetraplégico aos 43 anos, depois de sofrer um AVC maciço.

Faltando ainda uma coisa para fazer, Bauby aprendeu a comunicar-se com sua pálpebra esquerda, a única parte do corpo que conseguia movimentar. Nos 14 meses seguintes, "ditou" sua autobiografia piscando quando a pessoa que recitava o alfabeto para ele chegava à letra certa. Morreu de pneumonia dois dias depois de publicado o livro.

O filme "As Sessões" [capa de 19/2, "Dormindo com a terapeuta"] reencena os primeiros passos sexuais do poeta Mark O'Brien, paralisado pela poliomielite. Ele passava a maior parte do dia dentro de um aparelho que o ajudava a respirar.

Sentindo-se incompleto por não conhecer o sexo e sabendo que seu tempo era limitado, O'Brien perdeu a virgindade aos 38 anos com uma terapeuta sexual.

Alguns anos depois, casou-se com uma enfermeira que conheceu no hospital. Sua cantada foi: "Não sou virgem". Morreu aos 49 anos, de infecção pulmonar.

Diferentemente de outros com as mesmas dificuldades, os protagonistas desses filmes superaram suas limitações físicas e as que a sociedade previa para eles. Sua sede de viver e atitude "carpe diem" (aproveite cada dia) foram sábias, porque eles viveram metade dos dias dados à maioria de nós.

MICHAEL KEPP, jornalista americano radicado há 30 anos no Brasil, é autor do livro "Tropeços nos Trópicos - crônicas de um gringo brasileiro (Record)

www.michaelkepp.com.br

NA PRÓXIMA SEMANA

Mirian Goldenberg


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