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Finalista - Tony Marlon

INSTITUTO ESCOLA DE NOTÍCIAS www.escoladenoticias.org

Voz da periferia

O jornalista de 29 anos, solteiro, usa técnicas de comunicação, aliadas a autoconhecimento, para dar voz a adolescentes da periferia da zona sul de São Paulo; coordenador-geral, administra um orçamento de R$ 60 mil (2013) e, com a sócia, lidera uma estagiária, dois "oficineiros" e uma jornalista free-lancer

ELE DEU NOVO SIGNIFICADO A SEUS SONHOS E USA EDUCOMUNICAÇÃO PARA QUE JOVENS DA PERIFERIA MUDEM SUAS VIDAS

CRISTIANO CIPRIANO POMBO DO BANCO DE DADOS FOLHA

Quando pequeno, a diversão de Tony Marlon Teixeira Santos era escutar rádio. Em meio à luta dos pais, boias-frias em plantações de café, para criá-lo com duas irmãs, o garoto do Vale do Jequitinhonha (MG) desenhou o futuro ouvindo programas esportivos e "A Voz do Brasil".

O radinho deu a Tony um propósito, o de ser jornalista, uma paixão, a de torcer pelo Flamengo, e um sonho, o de morar na av. Paulista ("Achava que lá estavam as rádios").

E o menino de cabelo encaracolado, cujo nome a mãe extraiu do rádio "da criança cega que fez campanha para poder ser operada nos EUA e voltou a enxergar", cresceu entre trocas de endereço.

Em menos de dez anos, a busca dos pais, José Barbosa dos Santos, 53, e Marileide Teixeira da Silva Santos, 50, por uma vida melhor levou Tony a deixar Salinas (MG) e a morar em Vespasiano (MG) e Campinas (SP), antes de chegar à zona sul paulistana.

Por onde passou, Tony colecionou eventos de superação, entre eles bullying na escola. "Apanhei muito por não ser de Campinas. Tive tanto medo que, em três meses, apaguei o sotaque [mineiro]."

Mas foi no Campo Limpo, que considera a "29ª maior cidade do Brasil" por ter mais 600 mil habitantes, que Tony se achou. Lá, foi acolhido em 2001 pelo Projeto Arrastão, organização social com mais de 40 anos, e criou asas.

"Primeiro, cursei gastronomia. Todo mundo foi porque davam R$ 50, que o pessoal usava para comprar tênis."

Da gastronomia Tony foi para a comunicação, passou a dominar técnicas de produção e edição de vídeos e se gabaritou para voos maiores.

O primeiro deles foi ser selecionado num programa da Fundação Abrinq, entre 250 inscritos, o que lhe garantiu uma bolsa na universidade e no curso que escolhesse.

Optou por jornalismo e uma faculdade perto de casa, afinal, a vontade de mudar o Campo Limpo já batia o sonho de viver na av. Paulista.

A faculdade também mudou Tony. "Enquanto vi amiga com 18 anos ganhando carro de presente, tive que trabalhar para pagar um computador em 18 vezes."

Depois da av. Paulista, foi a vez de as rádios terem outro sentido para Tony. "[Após atuar em algumas,] vi que o meu sonho fora ressignificado, que o desejo era fazer algo pela comunidade."

Nessa época, há três anos, Tony já dirigia projetos de comunicação, como o Maré Alta, e uma produtora de vídeos. A formação que buscou para si o motivou a criar o Instituto Escola de Notícias.

ÁGUA FRIA

Em janeiro de 2011, com FGTS de dois trabalhos e seguro-desemprego, comprou uma câmera e três computadores e fez nascer a entidade. A formação inicial, em sociedade com colegas, porém, não decolou e deixou a Tony perdas de R$ 20 mil.

Triste, o mineiro de 1,62 m ficou 15 dias rodeado de perguntas e post-its nas paredes. Dessa imersão e da crença na inscrição que leva no braço ("omnia vincit amor", o amor vence tudo), bolou a fórmula do Escola de Notícias: uma escola comunitária fomentada por uma produtora de vídeo, que abrigaria os profissionais gestados na metodologia da educomunicação.

"Não fundaria ONG, devido à burocracia, nem empresa, pois há muita produtora de vídeo. E não criaria projeto pautado por patrocínio."

Ajudado por Karoline Alcântara, 22, em meio a dificuldades que o fizeram até queimar o chuveiro de casa para obter mais luz para uma das filmagens, Tony, 29, reergueu o Escola de Notícias.

Com metodologia que valoriza histórias, aliada à oferta de oficinas de jornalismo, foto e vídeo, produção de jornal, revista e rádio, intercâmbios e formação de núcleos de comunicação, a entidade beneficiou cerca de 600 jovens em dois anos. Conveniado com a prefeitura, atinge alunos de 16 escolas.

"Falo que faço curso de jornalismo no bairro e, quando digo que é de graça, ninguém acredita. O Escola de Notícias permite que a gente tenha voz e, no futuro, renda, em meio à violência", diz o estudante Anderson Machado, 24.

Quem vai ao EDN é instigado a obter meios de responder à pergunta que não cala: sabe o que a comunicação é capaz de fazer na sua vida?

Para o jornalista Tony Marlon, a pergunta significa o convite para o outro existir. Para o empreendedor Tony Marlon, ela é um dos meios de o Escola de Notícias mudar a vida das pessoas.


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