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Pamela Hartigan acadêmica

No Brasil, ainda se separa fazer o bem e ganhar dinheiro

Uma das maiores especialistas do mundo em empreendedorismo social diz que o mais importante é a forma como se obtém recurso

ÉRICA FRAGA PATRÍCIA TRUDES DA VEIGA DE SÃO PAULO

A visão do empreendedor social como "o virtuoso" e do empreendedor comercial como o oposto disso -ideia ainda muito presente no Brasil- é equivocada.
A avaliação é de Pamela Hartigan, uma das maiores especialistas no assunto, diretora do Skoll Centre for Social Entrepreneurship, centro de estudos de empreendedorismo social da Universidade de Oxford. Ela também foi diretora-executiva da Fundação Schwab.
Ganhar dinheiro, afirma ela, "é formidável", inclusive quando se trata de empreendimentos sociais.

Folha - O que empreendedorismo social significa hoje?
Pamela Hartigan - Como uma das pioneiras na difusão da noção de empreendedorismo social, talvez soe como uma surpresa eu estar começando a me sentir muito desconfortável com o termo e a descrição usada para se referir ao seu ator principal como "empreendedor social".
Esse termo era importante nos estágios iniciais do movimento. Mas, agora, continuam a promover a noção de empreendedorismo social como sinônimo de engajamento em atitudes paliativas.
Muitos de nós ficamos seduzidos a pensar que os empreendedores sociais eram grandes heróis. Não estou negando que esses indivíduos sejam excepcionais.
Eles identificaram oportunidades em áreas em que outros viam só problemas e persistiram em seus objetivos, que, para a maioria de nós, seriam distantes ou arriscados. Mas eles serão os primeiros a dizer que não atingiriam suas metas sozinhos.
Precisamos evoluir para uma apreciação mais realista do papel do empreendedor e da importância de um time de apoio e de um ecossistema de organizações que permitam o desenvolvimento da estratégia empreendedora.

Quais são as tendências do empreendedorismo social?
Uma tendência estimulante é o que tem acontecido dentro de empresas que transformaram em meta solucionar os maiores desafios do mundo de forma rentável.
Não quero passar a impressão de que isso esteja se tornando norma e de que estamos num momento de virada. Mas estamos definitivamente nos movendo na direção certa, embora, talvez, não rápido o suficiente.
Outra tendência excitante é o reconhecimento de que a definição atual de empreendedorismo -social ou comercial- é muito focada na criação de valor por meio de novas iniciativas. Ela foca muito o nome e o empreendedor, e não o suficiente a atividade de "estar empreendendo".
Esse conceito reconhece que poucos de nós somos empreendedores, mas que todos podemos "estar empreendendo", independentemente se trabalhamos em uma universidade de 800 anos, como eu, numa grande empresa ou numa instituição pública.

A senhora nota diferenças entre as tendências de empreendedorismo no Brasil e no restante do mundo?
No Brasil, continuamos separando o mundo no qual ganhamos dinheiro daquele em que fazemos o bem. Isso significa que, de alguma forma, aqueles de nós que nos consideramos "empreendedores sociais" somos os virtuosos e grandes e aqueles que são os "empreendedores comerciais" são o oposto.
Significa que ganhar dinheiro é algo do qual não nos devemos orgulhar, quando, na verdade, ganhar dinheiro é formidável. O tema, de fato, é como priorizamos e como fazemos isso.

Nossos cinco finalistas na faixa de 18 a 35 anos nunca consideraram trabalhar para grandes corporações. Isso é uma tendência?
Não há nada de errado em trabalhar para grandes corporações. Há muito a ser aprendido nelas. Se há essa tendência, os jovens não desejam esperar até os 50 anos para "retribuir". Eles querem contribuir com seus talentos mais cedo para criar mudanças sistêmicas no mundo.

Nossas quatro finalistas neste ano são mulheres. Elas têm ganhado espaço nas iniciativas socioambientais?
A dificuldade para as mulheres é a desigualdade de gênero, que continua a existir em nossas sociedades em todos os lugares. Isso torna muito difícil para as mulheres fazer com que suas iniciativas empreendedoras ganhem escala.


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