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Caminhos possíveis

Ame-o e deixe-o

Em visita ao Brasil, ministro-adjunto dos Transportes do Reino Unido diz que transporte público não é coisa de quem odeia os carros

RICARDO MIOTO DE SÃO PAULO

No que se refere a carros, o ministro-adjunto dos Transportes do Reino Unido, Robert Goodwill, defende a filosofia "ame-o e deixe-o (em casa)".

Conservador, ele elogia o prazer de se conquistar o carro próprio, mas defende que o caos urbano só é aliviado se ônibus e trem forem mais rápidos que os automóveis.

No Brasil para assinar acordos de cooperação em controle de tráfego aéreo e redução de emissões de automóveis, ele conta que congestionamentos em feriados são comuns no Reino Unido, mas que há como reduzi-los.

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Folha - O senhor chegou ao Brasil logo após grandes congestionamentos no feriado de 15 novembro. Isso também acontece no Reino Unido?

Robert Goodwill - Minha região é uma praia turística --bom, não exatamente Copacabana, mas Scarborough. Nos feriados, todos vão e voltam de lá juntos, e a viagem pode levar horas e horas.

Mas tentamos mitigar gargalos e prevenir acidentes na estrada. Isso faz com que o congestionamento seja significativamente menor do que no Brasil. Antes de vir para cá, eu achava que nós tínhamos problemas...

Que tipo de prevenção?

No Reino Unido, estamos gastando milhões para usar a tecnologia de informação, com câmeras e monitoramento, para reagir rápido caso surja algum gargalo.

Quanto aos acidentes, vale fazer com que as pessoas parem menos no acostamento.

Descobrimos que a maioria para no acostamento para falar ao telefone, para ver um mapa, não por problemas mecânicos. Mas ficar ali é muito perigoso, causa muitos acidentes. Então trocamos acostamentos contínuos por áreas de escape ao longo da rodovia, e o fluxo melhorou.

Mas provavelmente há muitas opções de trens até a região em que o senhor vive.

Sim. Eles ajudam, mas é preciso ter em mente que muitas pessoas que vão à praia querem levar suas coisas, suas comida, suas crianças, querem ter a flexibilidade de voltar quando quiserem. Se começar a chover ou se ficar frio, por exemplo --e às vezes essas coisas acontecem no Reino Unido...

Foi o que eu ouvi dizer...

[Risos.] Pois é. Estamos investimento muito dinheiro também na construção de novas rodovias, porque infraestrutura é nossa prioridade, é fundamental para a economia. Mas há dificuldades.

Em um país concentrado como o meu, o custo da mitigação ambiental é alto. Há ainda que se evitar que pessoas tenham de ser removidas, gasta-se ainda muito com túneis e outras obras.

E nós também estamos planejando um trem de alta velocidade. Os países poderiam até competir para ver quem termina primeiro.

Eu tenho uma aposta...

Mas, veja, não acho que o Reino Unido tenha sido um exemplo no que se refere a planejar sua infraestrutura. Foi um grande erro que cometemos. Muitas regiões surgiram, e nós fomos brincando de gato e rato com a infraestrutura, sempre correndo atrás, nunca se antecipando.

No caso do trânsito urbano, me parece que vocês são sempre citados como referência.

A solução real é o transporte público. Chegar a tempo no trabalho é muito melhor do que ficar preso em um carro no engarrafamento. É importante mostrar que o ônibus oferece essa opção.

Aqui em São Paulo, há um investimento em faixas exclusivas de ônibus, mas parece haver uma reação muito crítica por parte dos motoristas.

Aconteceu exatamente isso no Reino Unido. Liverpool chegou a fazer um experimento: suspender as faixas de ônibus para mostrar que não adiantava muita coisa.

O fato é que, se você ficará preso no trânsito de qualquer forma, no carro ou no ônibus, você certamente vai optar pelo carro. Ao menos você tem seu espaço, seu rádio, seu conforto. Mas, se o ônibus anda, você quer estar nele.

Embora exista um prazer em ter carro, e no Brasil há um fator de ascensão social.

Sim. Eu sou assim. Eu amo carros, entendo completamente a sensação. Não acho que o discurso seja o de ódio aos carros. Se você tem uma origem simples... Sei exatamente como é sonhar com ter um carro, ter essa realização.

Mas você deve avaliar o quanto vai utilizá-lo. No centro de Londres, por exemplo, estacionar é muito difícil. Você tem muito mais liberdade indo de metrô do que se preocupando com parar o carro.

Vocês tiveram Olimpíada em 2012. O Brasil pode esperar que tipo de legado?

O mais importante é que a Olimpíada será uma apresentação do Brasil ao mundo. A maneira como o evento é entregue é fundamental --uma imagem de organização pode trazer, por exemplo, muitos turistas posteriormente.

Por outro lado, sempre pode ser um desastre. O transporte, a segurança. O Rio pode ser como Atenas, que recebeu o evento quando a tinta ainda estava molhada, ou como Londres, que entregou todos os projetos dentro do prazo e do orçamento, algo que transmitiu a ideia de que a cidade era um bom lugar para fazer negócios e visitar.


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