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Mais do que desejável

Exigência de fluência no inglês chega a cargos secundários; falar idioma dá mais autonomia a profissional e eleva salário em 15%, em média

DHIEGO MAIA DE SÃO PAULO

No ano passado, a enfermeira Rafaela Medeiros, 33, estava de plantão no Instituto de Psiquiatria Hospital das Clínicas de São Paulo quando um australiano bêbado precisou ser atendido. Só ela falava inglês no momento.

"Fiz o primeiro atendimento clínico, consultei o hostel onde ele estava hospedado e consegui contatar o amigo dele. Foi uma experiência desafiadora", conta.

O caso de Medeiros é um exemplo de como a exigência de falar inglês fluentemente está se disseminando no Brasil. O conhecimento da língua deixou de ser primordial apenas em cargos de gestão e passou a ser essencial também para quem ocupa postos mais secundários.

Profissionais de áreas como tecnologia da informação, varejo, contabilidade e saúde, construção civil, em que essa necessidade não era tão forte, passaram a exigir fluência em inglês.

Para o diagnóstico de mercado, a Folha pediu que sete das maiores empresas de recrutamento do país indicassem cinco áreas em que essa tendência é mais forte. Foram selecionadas as dez áreas mais lembradas.

"A partir do nível analista pleno, o contato e conhecimento do idioma são exigidos em uma empresa multinacional", diz o diretor-geral da recrutadora Robert Walters, Frédéric Ronflard.

"Mesmo nas empresas nacionais os processos de recrutamento estão optando por profissionais de todos os níveis com inglês fluente", afirma Renata Filippi, diretora da recrutadora Mariaca.

Uma das áreas citadas pelas recrutadoras foi o setor de logística. Frans Montagnano, 24, é gerente desse setor em uma distribuidora de celulares em São Paulo que lida com mercados da Ásia, da Europa e dos Estados Unidos.

Ele tem de falar inglês diariamente para conseguir novos clientes pelo mundo e para traçar metas. "Ter a fluência do inglês foi um pré-requisito para eu ocupar a vaga", conta.

NO BOLSO

Montagnano diz que o segundo idioma faz com que ele tenha um salário maior do que colegas.

De acordo com o diretor-executivo da empresa de recrutamento Page Personnel, Roberto Picino, em média, o profissional que fala inglês ganha 15% a mais do que os demais --ele faz esse cálculo com base nas seleções que a companhia realiza.

"Quem é fluente, dependendo da posição, transita em vários departamentos da organização, é acionado para fechar negociações internacionais e, por tudo isso, acaba ganhando mais", afirma o executivo.

O problema é que o brasileiro ainda tem dificuldade com o inglês, mesmo quando considera que fala o idioma fluentemente.

Uma pesquisa feita pela empresa Vagas Tecnologia mostrou que, entre 19 mil candidatos que disseram falar inglês de modo fluente ou avançado, apenas 36% passaram em um teste que verifica essa classificação.

"O inglês é uma prioridade do mercado e não do Brasil. O país ainda tem muitas outras pendências estruturais e na educação para resolver", avalia Picino.

De uma certa forma, as empresas sentem necessidade de resolver o problema. Dados de 2013 da consultoria Hays indicam que 49,6% das companhias oferecem bolsa ou auxílio financeiro para cursos de idiomas.

Mas pouco mais da metade (55,5%) dos 7.500 entrevistados investem nesse tipo de aprendizado.

A enfermeira Medeiros cursa há três anos módulos do método de Cambridge. O curso foi ofertado pelo hospital. No ano passado, ela recebeu um treinamento específico de seis meses para lidar com estrangeiros em situação de emergência.

"Aprendi a lidar com situações bem específicas como identificar, em conversas com o paciente, a dor que ele está sentindo e o que ele passou."

Às vezes, é preciso ter um "empurrão" para enxergar a necessidade. Um episódio desagradável forçou Thiago Carmona de Paula, 31, a buscar o domínio da língua. Ele, que trabalha com marketing, não conseguiu fechar uma negociação por telefone com um cliente estrangeiro.

"Por e-mail eu não tinha problemas, porque dava para consultar as palavras. Mas nesse dia tive que pedir a ajuda de uma intérprete. Esse foi um momento em que eu disse para mim mesmo que não dava mais para trabalhar sem um inglês fluente", conta.

O profissional pediu demissão da agência TMSW, de São Paulo, e matriculou-se em um curso de extensão de inglês com ênfase em negócio em uma universidade da Califórnia (EUA). Quando regressou ao Brasil, foi convidado a retornar à mesma agência, mas subiu do cargo de analista de negócios para o de gerente de contas.

"As empresas delegam mais responsabilidade a quem fala inglês, mesmo que esses profissionais não tenham cargos estratégicos", diz Caroline Cadorin, gerente da empresa de recrutamento Hays.

Veja se você está preparado para uma entrevista de emprego em inglês
folha.com/no1403713


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