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Abel Rocha

MAESTRO DA SINFÔNICA DE SANTO ANDRÉ

A música clássica está em todos os lugares

Erudito não está isolado; aparece no cinema e até em videogames

PAULO GOMES DE SÃO PAULO

Dizer que a música clássica está restrita às classes sociais mais altas ou que hoje não se encontram mais compositores eruditos de renome como nos séculos anteriores são lugares-comuns.

Para o maestro Abel Rocha, diretor artístico e regente titular da Orquestra Sinfônica de Santo André e ex-diretor artístico do Theatro Municipal de São Paulo, são duas crenças enganosas.

"Cansei de ouvir que ópera e música de concerto são elitistas", diz. Segundo Rocha, os diversos programas brasileiros de inclusão social na área da cultura passam pela música clássica, o que a torna mais conhecida nas comunidades onde é oferecida essa formação do que em classes mais ricas, "que acabam consumindo a música comercial".

"É questão de divulgação. Quanto mais acessível você tornar esse repertório, mais fácil e popular ele será." Neste sentido, o maestro afirma que a Coleção Folha Mestres da Música Clássica é uma forma de democratizar o estilo. "Disponibilizar esse material em veículo de grande circulação é uma maneira muito forte de difundir esse repertório."

CONTEXTO HISTÓRICO

Obras longas --o primeiro volume da coleção tem duas músicas e mais de uma hora-- e frequentemente sem canto favorecem a noção de que o estilo de música é difícil.

Entender as referências feitas em cada obra pelos compositores e conhecer um pouco de suas trajetórias e contextos históricos são maneiras de despertar a curiosidade.

Para isso, cada volume da coleção traz informações sobre o compositor e sua obra.

"As pessoas gostam de reconhecer, de ouvir algo que já conhecem. A explicação --seja antes do concerto em uma conversa com o público ou na leitura a respeito da obra que você vai ouvir-- abre uma curiosidade ao seu ouvido. Então, quando você escutar, já o fará de maneira diferente, com mais intimidade."

Saber que o classicismo de Mozart e Beethoven surgiu na época do Iluminismo, a "era da razão" que rompia com a Igreja e consequentemente o estilo barroco de música, ou então que Beethoven compôs sua terceira sinfonia em homenagem a Napoleão, mas voltou atrás quando o francês se autoproclamou imperador, é, portanto, mais uma maneira de instigar o ouvinte.

"A ópera era a novela do século 19", conta o maestro. Segundo ele, pessoas assistiam cinco vezes a uma mesma ópera, até conhecê-la de cor.

"Perceber que essa música tinha esse apelo popular no período em que foi criada talvez ajude as pessoas a ter a curiosidade de conhecê-la e consumi-la de maneira um pouco mais natural", afirma.

Rocha refuta a hipótese de um declínio, dos anos 1950 para cá, de grandes compositores. A música de concerto é que foi para novos meios, segundo o maestro.

"Continuamos tendo esses compositores. Muitas vezes sem perceber, mas eles estão aí, só que migraram para outras mídias, como seria natural. A sala de espetáculo (como espaço para a música de concerto) é só uma das possibilidades".

KUBRICK E SPIELBERG

O cinema é um dos principais expoentes dos novos meios, não apenas na utilização de música erudita contemporânea, mas também de obras antigas, como "Carmina Burana" (1936), de Carl Orff, na franquia "Duro de Matar" e orquestrações oitocentistas de Beethoven e Richard Strauss em filmes de Stanley Kubrick (respectivamente, "Laranja Mecânica" e "2001").

Rocha afirma que John Williams (compositor parceiro de Steven Spielberg), Ennio Morricone (responsável pelas trilhas de alguns faroestes de Sergio Leone) e vários outros são tão eruditos e têm uma escritura tão elaborada quanto os compositores da virada do século 19 para o 20.

"Inúmeros filmes foram feitos em cima de óperas de Wagner. Desenhos animados como Pernalonga' e Pica-Pau' usaram muito da música de concerto como referência. Não percebemos, mas a ouvimos em desenho, cinema, muitas vezes até em videogame, que tem trilhas de uma elaboração musical gigantesca", diz.

"Ela migrou e temos que aprender que música clássica não é só Mozart e Beethoven."


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