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Pouca eficiência 'rouba' mercado do país

Indústria brasileira perde capacidade de competir com concorrentes estrangeiros em razão de custos de produção mais elevados

DE SÃO PAULO

Quem está roubando mercado do Brasil no exterior é a perda de eficiência na produção doméstica, e não os culpados citados sempre, como China e outros concorrentes.

A avaliação é unânime entre economistas e empresários reunidos em São Paulo nas últimas quinta (27) e sexta-feira (28) no Fórum de Exportação, evento organizado no ciclo de Seminários Folha.

O diagnóstico é que produzir no Brasil ficou caro, em razão de custos crescentes com mão de obra, burocracia estatal, altos impostos e dificuldades logísticas --problemas que ficaram evidentes quando o dólar ficou mais barato no Brasil e a competição global se acirrou.

O problema bate hoje à porta do agronegócio, mas na indústria já é crise séria.

As exportações de produtos manufaturados estão estagnadas desde 2008. As vendas de itens industriais, que respondiam por mais da metade do que o Brasil exportava há dez anos (54%), hoje não passam de 38%.

As importações, por sua vez, subiram quase 40%, sugerindo que também no mercado doméstico o país perde a "guerra comercial", como diz o professor da Faculdade de Economia e Administração da USP Paulo Feldmann.

Para compensar a perda de competitividade da indústria, o governo lançou mão de subsídios, desonerações, empréstimos do BNDES e protecionismo, observa o ex-embaixador Rubens Barbosa.

O efeito não tem sido animador. A crise persistente da indústria e a previsão, cada vez mais realista, de que o país caminha para um saldo negativo em sua balança comercial levam à necessidade de uma solução para um dano profundo: a perda da capacidade de competir.

"É um dos problemas mais graves que estamos enfrentando", diz Barbosa, que é conselheiro da Fiesp. "A perda de competitividade é sistêmica. Enquanto o mundo avança, o Brasil está parado."

O curativo mais lembrado por empresários é corrigir (para cima) a cotação do dólar, fazendo com que os custos, quando fixados na moeda estrangeira, pareçam menores. Mas não é o bastante.

"O câmbio é uma solução passageira", diz José Augusto de Castro, presidente da AEB (Associação de Comércio Exterior do Brasil).

"Nós temos que reduzir custos, pois só assim a empresa exportadora tem o controle sobre [os ganhos obtidos com a] exportação."

Sobre o câmbio, ressalta, a empresa não tem controle.

O ex-presidente do Banco Central Henrique Meirelles (2003-11), que abriu o Fórum, afirma que a tendência de longo prazo é que o dólar se valorize. No mercado, analistas preveem a moeda americana a R$ 2,50 ao fim de 2015.

Mas também Meirelles recomenda soluções mais microeconômicas, que melhorem o ambiente de negócios para as empresas.

A redução de incertezas daria previsibilidade aos empresários, que assim poderiam ampliar investimentos e melhorar a produtividade dentro das fábricas. Do lado de fora, é preciso aplicar recursos e esforços na infraestrutura para escoar a produção.

"O caminho para a recuperação do crescimento passa certamente pelas exportações", afirmou Meirelles.

Para Barbosa, e também para Castro, as empresas brasileiras têm que participar das cadeias globais de produção, e isso só ocorrerá com custos internos mais baixos --o que requer uma revisão de impostos, custos trabalhistas e de burocracia estatal.

"Precisamos fazer o dever de casa. Se não, teremos que rezar muito e em mandarim", diz Castro, referindo-se ao mais importante parceiro do Brasil, a China.


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