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Painel do Eleitor

MARCELO COELHO

'Faltam bandeiras a Dilma e Aécio'

Empresário de Cajamar se identifica com Marina, pois também disputou eleições em partidos sem estrutura

Espera-se quase uma hora para falar com Ancelmo Aldon, 44 anos, no galpão quase pronto de sua empresa em Cajamar (SP). Representantes de marcas de café, biscoitos e outros alimentos esperam no estacionamento, que tem vaga para quatro carros, enquanto um velho amigo do proprietário faz, sozinho, os últimos ajustes na instalação elétrica.

A firma de Ancelmo compra alimentos por atacado e os distribui para os mercadinhos da região. Com um bom mercado nesta cidade de 65 mil habitantes, no cinturão fabril de São Paulo, Anselmo também vende lotes de cestas básicas para empresas interessadas em oferecer o benefício.

Ele mostra uma embalagem de gelatina em pó, bastante bonitinha, mas de marca totalmente desconhecida, para explicar um sofisticado raciocínio, ao mesmo tempo comercial e político.

Se a cesta básica contiver apenas produtos desconhecidos ou sem marca nenhuma, diz Ancelmo, o funcionário não valorizará o benefício --e a estratégia da empresa terá efeitos negativos. É preciso combinar os produtos mais baratos com uma proporção de marcas de boa presença no mercado.

Aí entra a estratégia empresarial de Ancelmo. Vendendo cestas básicas e tendo ao mesmo tempo acesso a pontos de varejo, ele pode pegar, por exemplo, uma marca de gelatina desconhecida e colocá-la nas prateleiras de um mercado da região. Quando receber a cesta básica, o funcionário de uma empresa já não estranhará aquele produto, todavia mais barato do que as marcas de primeira linha.

Esse jogo de "duas pontas" --a do varejo e a da cesta gratuita-- é semelhante, diz Ancelmo numa virada de raciocínio, à aliança entre Marina Silva e Eduardo Campos.

O ex-governador de Pernambuco era "uma cesta básica", enquanto Marina tinha o marketing de uma personalidade conhecida. Com o acidente aéreo, a relação, de certo modo, se inverteu, prossegue Ancelmo. A ausência de Eduardo chamou a atenção para Marina, tornando-se uma marca mais forte do que quando era oferecida "de graça" ao eleitor.

Nascido em Aracaju, Ancelmo formou-se em administração enquanto trabalhava na Mercedes-Benz, em São Bernardo. Guarda dessa época a emoção das greves e mobilizações, além de amizades com sindicalistas do PT.

Seu gosto pela política, que o levou a ler Maquiavel, "um pouco de Hobbes" e "A Arte da Guerra", de Sun Tzu, concretizou-se na prática por uma questão corriqueira.

Morando com a mulher no centro de Cajamar, possuía também uma pequena casa numa área de encosta; numa chuva em 2003, o barranco "desceu" sobre a rodovia, deixando algumas moradias com risco de desabamento.

"Sou encrenqueiro", conta. Verificou que pagava taxas pela propriedade sem que houvesse esgoto nem coleta de lixo. Entrou com ação na Justiça; xingou um vereador; terminou participando da associação de amigos de bairro e das consultas para a elaboração do Plano Diretor de Cajamar.

Em 2008, seria candidato a vereador pelo PV, tendo conseguido apenas 28 votos. Nos anos seguintes, ocuparia cargos na administração municipal, ocupada pelo PSDB. Seus contatos com o PT suscitaram a expectativa de que ele pudesse atrair membros da oposição para a base de apoio tucana.

No fim, seria Ancelmo quem se desentenderia com o PSDB. Depois disso, ele procurou vários partidos para se filiar --PSOL, PSC, PHS. Sua candidatura a prefeito, por esta última legenda, renderia muitas decepções, na vida empresarial e pessoal, e Ancelmo se afastou da militância partidária.

Daí surge, diz ele, sua identificação com Eduardo Campos, inicialmente, e agora com Marina Silva. Ambos tiveram a experiência de participar de um governo e entrar, com menos estrutura, numa candidatura dissidente.

Ele diz que "a política tem ciclos". Vê qualidades e continuidade em todos os governos, desde Collor, que promoveu o início da abertura econômica, passando por Fernando Henrique, que estabilizou a moeda, e Lula, com o avanço nos programas sociais. Mas o ciclo petista, diz, já se esgotou; propostas como a expansão da banda larga ou o programa Mais Médicos são superficiais, diz Ancelmo; é "venda de imagem, não visão política".

"Faltam bandeiras a Dilma e Aécio." O ambiente para mudanças, conclui, está criado.


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