Saltar para o conteúdo principal Saltar para o menu
 
 

Lista de textos do jornal de hoje Navegue por editoria

Especial

  • Tamanho da Letra  
  • Comunicar Erros  
  • Imprimir  

Painel do Eleitor

MARCELO COELHO

'Quero tirar Dilma de qualquer jeito'

Fisioterapeuta diz que Bolsa Família permite toda sorte de abusos e critica cotas para negros e pardos

A fisioterapeuta Camila Borba, 30, discutiu bastante antes de anular seu voto para governador, nas eleições de domingo passado.

Pela internet, ela mantém contato com amigos de infância, que se formaram em odontologia, jornalismo ou engenharia ambiental. Eleitores de Skaf ou de Alckmin, alguns deles não se conformaram com a decisão de Camila.

"Foi uma frase do Alckmin que me fez deixar de votar nele", conta. O governador declarou, segundo Camila, "que o número de latrocínios no Estado era compatível com o tamanho da população".

Não foi a única frustração com a segurança paulista por parte da fisioterapeuta, que mora no Campo Limpo e trabalha no Morumbi. Na época da Copa do Mundo, foi abordada por dois motoqueiros ao descer do ônibus; entregou o celular e a carteira com os documentos.

A delegacia mais próxima ficava fechada durante a noite; encaminharam-na para outra, no Portal do Morumbi. Logo avisaram: se ela quisesse fazer o boletim de ocorrência, que se preparasse para passar a noite toda lá; havia outros quatro flagrantes em andamento. Havia um tom de ironia em quem a atendeu, diz Camila. "Disseram que eu podia ir direto para o trabalho depois". Camila decidiu fazer o BO no dia seguinte, pela internet. Numa base móvel da polícia, disseram-lhe que isso não seria possível: em casos de assalto à mão armada, sua presença era requerida numa delegacia.

Camila foi ao DP. Era dia de jogo do Brasil. Com os pés em cima da mesa, a atendente disse que por lá "estavam sem sistema". Já irritada, Camila perguntou se depois do jogo o sistema voltaria. "Não sei, não, senhora", responderam.

No terceiro dia, Camila resolveu fazer o boletim pela internet mesmo, sem ter certeza se seria válido ou não. Recebeu depois um e-mail para comparecer à delegacia; atendeu ao requerimento, apenas para ser avisada de que nada mais era necessário, e que seu BO era válido.

No começo da campanha, interessou-se pelas propostas de Paulo Skaf. Desistiu quando soube que o peemedebista estava aliado a Paulo Maluf: "Esse não tem condição".

No PT, ela nunca votou. Apesar de ter simpatia por Eduardo Suplicy, votou no Partido Verde para senador e para deputados federal e estadual.

Para presidente, votou em Marina Silva (PSB) no primeiro turno, mas com menos entusiasmo do que em 2010. Agora a candidata ficou "mais comercial", diz Camila, menos "revolucionária" em suas intenções de mudança.

Um exemplo disso é o apoio da candidata ao Bolsa Família, que para Camila dá ocasião a toda sorte de abusos. "São relatos que você ouve no ônibus", conta. Ao seu lado, uma passageira perguntou a outra por que não pedia o Bolsa Família. "Mas eu trabalho", teria respondido a mulher. "Você é boba, pode pedir e continuar trabalhando", respondeu a primeira.

"Isso me revolta", diz Camila, "porque eu trabalho e tem gente vivendo dos meus impostos".

Nem todas as políticas sociais do atual governo a desagradam, todavia. "O Mais Médicos eu acho bom", diz Camila, pois os profissionais brasileiros "estavam na zona de conforto". Ela também aprova o ProUni e o Fies, embora tenha amigas sofrendo pelo brusco aumento das taxas de juros neste programa de financiamento aos estudantes de faculdades particulares.

Quanto às cotas para negros e pardos, "acho ridículo, péssimo", diz Camila. "Todo mundo é igual. Por acaso o negro é desfavorecido de inteligência?"

Ela cuida sozinha da filha de um ano e sete meses. Não tem certeza se poderá pagar sempre escola particular para ela. "Não prevejo coisas boas para a economia", explica. Qualifica de "absurda" a inflação, em especial os aumentos de preços no setor alimentício.

Na academia onde trabalha, Camila vê clientes hesitando em fechar pacotes de atendimento para mais de dois meses, por medo de não conseguirem pagar durante um prazo mais longo.

Além da "roubalheira absurda", Camila vê no PT a tendência de achar "a população muito desprovida de conhecimento". Dizem que houve "grande melhora, achando que a população acredita".

Sem paciência para debates na TV, Camila já se decidiu. "Quero tirar Dilma de qualquer jeito". É Aécio no segundo turno.


Publicidade

Publicidade

Publicidade


Voltar ao topo da página