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Xico Sá

Chupar é humano

Nunca ouvimos tanto este brado retumbante, verbo com o qual se provoca o adversário

Amigo torcedor, amigo secador, no futebol, assim como em alguns momentos da vida, a desgraça alheia é tão significativa quanto o próprio triunfo. Nunca se secou tanto como nesta Libertadores.

"Chupa São Paulo, chupa Palmeiras, chupa Corinthians", grasna o corvo Edgar, o agouro coberto de penas e assombrações. O "chupa", como sabemos, é o homossexualíssimo verbo com o qual se provoca o adversário. Nunca ouvimos tanto este brado retumbante. Ouviram os tricolores do Morumbi, ouviram os palmeirenses da Pompeia, ouviram os corintianos de Itaquera, ouviram do Ipiranga às margens fétidas.

"E-li-mi-na-dos!!!", crocita Edgar, amante das exclamações e do sangue escorrendo nas manchetes. O chamado trio de ferro da capital foi desclassificado com os mesmos requintes de crueldade. Até nisso rolou uma certa isonomia de princípios tragicômicos. Todos chuparam da forma mais grega possível.

Ao São Paulo sobrou a humilhação da goleada em ritmo de jogo-treino do Galo, ao Palmeiras coube um frango insosso boiando na canja de doente, ao Corinthians restou aquela saída honrosa, com aplauso de torcida e tudo, a saída que os inimigos mais adoram. Aquela despedida com roubo do juiz. Assim é mais gostoso, diz o corvo de boteco.

Porque, meu jovem, futebol é universo paralelo. O mais ético dos homens esquece o discurso da honestidade e zoa o adversário. Nem a madre Teresa de Calcutá resistiria a tirar a sua onda no momento da queda de um time poderoso.

O futebol é uma selvageria à parte no hipotálamo dos homens, como diz o maestro Jr. Black, tricolor do Arruda especializado em entretenimento, estudos da natureza e das alterações psíquicas.

E de todos os requintes das tragédias acho o frango do goleiro Bruno o mais leve! Sim, desde que apoiado nesta comparaçãozinha de especialista e conhecedor da causa: o frango está para o futebol como o chifre para o amor -é inevitável. Mais dias ou menos dias, todo mundo leva. Só sei que nada sei de futebol, mas de traição eu entendo.

"O frango é mais leve do que dançar para o 19º colocado do campeonato argentino", volta Edgar, ah meu estimado cuervo lazarento. "E existem 19 times no certame dos hermanos daquele país menor que o mitológico Cariri?", o mesmo assombrado bicho pergunta. "Ah, o Boca é o Boca", imita os comentaristas.

Nada como a desgraça alheia.

Não esqueci do Grêmio do rei do planejamento, Luxemburgo. Planejou como nunca e caiu da forma improvisada de sempre. Deus é gaúcho e castiga quem abandona o certame dos pampas. Viver é esquina.

E a trilha sugerida pelo leitor Marko Acosta. Música perfeita para a ocasião. De Ivan Lins e Vitor Martins, na voz de Edgar: "Cai o rei de espadas/ Cai o rei de ouros/ Cai o rei de paus/ Cai não fica nada".


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