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Fábio Seixas

Pilotos sem cara

Em Mônaco, neste fim de semana, metade do grid vai correr com os capacetes modificados

O circuito não passa por ali. Mas há, no quai Jean-Charles Rey, no porto de Fontvieille, em Mônaco, uma loja de memorabilia de F-1.

Bem perto há um restaurante onde íamos, repórteres da minha época, jantar de vez em quando. Na caminhada até o estacionamento passávamos pela tal loja. E perdíamos (ou ganhávamos) bom tempo na vitrine desafiando, um ao outro, a apontar os donos dos capacetes expostos.

Coisa parecida acontecia no Albergo Sant'Eustorgio, ao lado do Parco di Monza, que serviu a pilotos por décadas, até que hotéis mais luxuosos fossem erguidos na região.

(Foi lá que Rindt passou a última noite, por exemplo.)

Há no lobby vários capacetes deixados por pilotos, ao longo dos anos. Fim de noite, último drinque, sempre rolava uma sessão de quiz.

Isso tudo faz anos. Mas em Mônaco, lembro, havia o do Johansson e do Lauda. Em Monza, o do Regazzoni. Desenhos e cores marcantes, inesquecíveis. Tradicionais.

Tradição que vem se perdendo. E que nunca esteve tão em baixa como neste final de semana no principado.

Dos 22 pilotos no grid, metade correrá com "designs especiais". Hamilton pintou caricaturas sua, da namorada e do cachorro. Alonso fez uma auto-homenagem a suas 32 vitórias na categoria. Grosjean bolou uma cena de carteado. Vergne e Raikkonen prestam reverência a seus ídolos, Cevert e Hunt, respectivamente. E por aí vai...

Vettel não correu dois GPs seguidos neste Mundial com o mesmo capacete. Em alguns casos, mudou as cores do sábado para o domingo.

Há, algumas vezes, um fundo nobre nisso tudo. Pérez vai leiloar seu capacete após a corrida e doar o valor arrecadado para caridade. Há também o bom e velho livre arbítrio: cada um faz o que quer.

Mas não gosto.

A F-1 já é dos esportes mais herméticos. Tão fechado que o torcedor não vê o rosto do ídolo durante a competição.

A identificação --não só visual-- muitas vezes se faz pelo capacete. Que, se priva os pilotos de expressar alegrias e tristezas, por outro lado lhes confere auras de guerreiros.

Cada um tem suas preferências. Quando moleque, meu preferido era o do Berger.

Sóbrio, sem firulas: preto, branco e a bandeira da Áustria. Depois, adotei o do Greg Moore, da Indy, que aos meus olhos lembrava os elmos de cavaleiros medievais.

Se eu tivesse começado a assistir à F-1 nesta temporada, eu me sentiria perdido. E aqueles guias de início de temporada, jogamos fora? E a tradição, onde fica? Os pilotos vão ficar mesmo sem cara?

Mas talvez a garotada de hoje curta caricaturas de cachorros e eu seja só um colunista dando claros sinais de velhice.

fabio.seixas@grupofolha.com.br


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