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Edgard Alves

Dilema no pugilismo

Boxe olímpico age para tentar evitar evasão de lutadores para o profissionalismo

O boxe olímpico se reinventa na tentativa de manter suas estrelas, mas rema contra a correnteza. Mudou regras e está abolindo um dogma, o uso de capacetes protetores. Até criou uma organização para permitir que seus pugilistas atuem na área profissional sem perder o direito de competir na Olimpíada. Profissionais não participam dos Jogos, exceto por esse braço montado pela Aiba (Associação Internacional de Boxe Amador).

Essa reação dos dirigentes da entidade é uma tentativa de fortalecer o interesse pelas disputas olímpicas. A meu ver, são medidas paliativas, um exercício míope de competição com o boxe profissional, pois o olímpico não vai morrer, apenas seguirá revelando atletas. Ele é a base da modalidade.

Os apelos do boxe profissional são fortes em função das bolsas oferecidas pelas lutas. Há interesse tanto dos empresários como dos próprios pugilistas. Quem não sonha em desfrutar de sucesso semelhante ao do americano Floyd Mayweather Jr., que ganhou US$ 41,5 milhões em luta recente e projeta embolsar US$ 100 milhões (cerca de R$ 216 milhões) em sua próxima defesa do título?

Valores astronômicos desse porte atiçam os pugilistas, provocando um dilema, o de optar pela chance da independência financeira ou pela glória de medalhas. Alavancados ainda pela pressão de que uma oportunidade desperdiçada pode representar o fim de um sonho, de um desafio que pode ser único na vida. Situação intrigante mesmo levando-se em conta que, no início de carreira, as bolsas são modestas, embora sem deixarem de ser atraentes.

Por causa disso, a Aiba tenta um meio-termo, aproximando o atleta olímpico da carreira profissional, ação que está apenas no início e com cenário se mostrando desfavorável ao olimpismo. O brasileiro Yamaguchi Falcão, bronze em Londres-12, é um exemplo. Virou boxeador profissional de verdade pela Golden Boy Promotions, do ex-campeão mundial Oscar de la Hoya (EUA), e fica fora da Olimpíada-2016, no Rio. Antes, ele havia assinado com a APB, a liga da Aiba; no entanto, sucumbiu diante de proposta da GBP. Esquiva, prata na Olimpíada, resiste, mas pode seguir os passos do irmão Yamaguchi.

O assédio dos empresários já conquistou outros medalhistas dos Jogos do ano passado, entre eles, o japonês Ryota Murata (ganhou de Esquiva na disputa do ouro). O bicampeão olímpico Vasyl Lomachenko, da Ucrânia, arrebatou US$ 100 mil na sua estréia como profissional e tem proposta para lutar pelo título mundial dos penas em janeiro.

Mesmo remando contra a corrente, a Aiba procura novos caminhos, como a decisão de abolir o capacete protetor, medida aplicada no Mundial, em disputa no Casaquistão. Uma atitude que deve provocar debates sobre a violência do boxe. Um risco desnecessário, mas que reativará a imprescindível discussão sobre a saúde e a segurança dos lutadores.


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